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Desemprego e trabalho não remunerado podem levar a problemas de saúde mental

Psicóloga Ana Lara Vicari Duarte fala sobre a relação entre a falta de trabalho, saúde mental e risco de suicídio

A psicóloga Ana Lara Vicari Duarte aborda a conexão entre o desemprego, a saúde mental e o aumento do risco de suicídio (Foto: Divulgação) A psicóloga Ana Lara Vicari Duarte aborda a conexão entre o desemprego, a saúde mental e o aumento do risco de suicídio (Foto: Divulgação)

A falta de trabalho e a realização de trabalhos não remunerados podem ter um impacto significativo na saúde mental das pessoas. De acordo com estudos científicos, a falta de trabalho pode levar a problemas como depressão, ansiedade e até mesmo suicídio.

O Diário da Manhã conversou com a psicóloga Ana Lara Vicari Duarte, formada pelo Centro Universitário Campo Real e pós-graduanda em 'Transtorno de Personalidade Borderline na Terapia Cognitivo Comportamental' e 'Tratamento dos Transtornos de Ansiedade e Síndrome do Pânico', para abordar a relação entre a falta de trabalho e a realização de trabalhos não remunerados, e seu impacto na saúde mental das pessoas.

Depressão e ansiedade

A falta de trabalho pode levar a sentimentos de inutilidade e desesperança, o que pode levar a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. Um estudo publicado no Journal of Health Economics descobriu que o desemprego aumenta significativamente o risco de depressão e ansiedade. O estudo também descobriu que o impacto na saúde mental é maior para aqueles que estão desempregados por um longo período de tempo.

Conforme a psicólogaAna Lara Vicari Duarte, a relação entre a falta de trabalho e problemas de saúde mental é complexa. Ela esclarece: "O desemprego leva a sensações de inutilidade e desesperança. Numa condição de desemprego, o sujeito não só se encontra sem o seu recurso de renda, mas também lhe afeta a sua área humana em si, já que o emprego constitui um perfil, uma atividade para aquela pessoa e que pode muito bem proporcionar uma sensação de maior segurança e utilidade."

A psicóloga também destaca a importância de considerar fatores específicos que tornam essa associação mais significativa em certos casos. Ela observa: "É óbvio que camadas sociais mais baixas, justamente aquelas em que o desemprego é mais prevalente, possuem um potencial maior para desenvolver esses problemas, já que o emprego não só define seu perfil, mas também é o que determina o curso de sustento de suas vidas."

Portanto, é essencial reconhecer que o impacto do desemprego na saúde mental pode variar de acordo com a situação e o contexto de cada indivíduo.

Suicídio

O desemprego também pode levar ao aumento do risco de suicídio. Um estudo publicado no Journal of Epidemiology and Community Health descobriu que o desemprego está associado a um aumento significativo no risco de suicídio. O estudo também revela que o risco é maior para homens do que para mulheres.

A psicóloga Ana Lara também falou sobre a relação entre o desemprego e um aumento no risco de suicídio, destacando que a sensação de 'inutilidade'.

"O suicídio no caso do desemprego muitas vezes está ligado à sensação de 'inutilidade', à falta de sustento da família e à exclusão social que essas pessoas enfrentam", disse a psicóloga Ana Lara Vicari Duarte

Ela também ressaltou que durante a pandemia da covid-19, a alta taxa de desemprego contribuiu para um aumento nos transtornos psicológicos e, consequentemente, no risco de suicídio.

Além disso, a Ana Lara apontou a importância de estar atento aos sinais que indicam uma possível busca por tentativas de suicídio e de buscar ajuda psicológica o mais rápido possível. Ela enfatizou a necessidade de estratégias eficazes para prevenir esse risco, considerando o impacto devastador que o desemprego pode ter na saúde mental das pessoas.

Trabalho não remunerado

Além do desemprego, o trabalho não remunerado também pode ter um impacto significativo na saúde mental. Um estudo publicado no Journal of Occupational Health Psychology mostra que o trabalho não remunerado pode levar a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. O estudo também aponta que o impacto na saúde mental é maior para aqueles que realizam trabalhos não remunerados por um longo período de tempo.

A psicóloga destacou a importância de explorar não apenas o desemprego, mas também o trabalho não remunerado como um fator de risco para problemas de saúde mental. Ela ressaltou que "o trabalho mal remunerado é outro grande problema em nosso país".

Ela continuou, explicando como essa situação afeta os indivíduos: "Se um trabalhador que não ganha conforme deveria para abarcar tudo o que lhe é de direito (saúde, lazer, alimentação, moradia etc) e ainda trabalha por um longo período de tempo, a sensação na maioria das vezes irá também ser de inutilidade, visto que seu serviço não consegue prover tudo aquilo que ele necessita."

Ana Lara também sublinhou que "isso o leva a uma baixa expectativa para novos empregos com condições melhores, já que sempre está mais cansado do que o habitual (visto que sua jornada é maior) e sua saúde mental também estará mais fragilizada."

Ela concluiu enfatizando a importância da mudança: "Este é justamente um ciclo que devemos romper e por isso que a busca por mais direitos trabalhistas é uma luta tão importante hoje em nosso país." Suas observações enfatizam a necessidade premente de criar melhores condições de trabalho para promover a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores.

Crise econômica e saúde mental

Segundo um estudo realizado por alunos da Universidade Federal da Bahia em 2021, a crise econômica tem várias dimensões: ela afeta a economia, as finanças, a sociedade, o meio ambiente, a cultura e a política. No Brasil, essa crise não é diferente, e pode ser explicada porque o modelo de desenvolvimento está esgotado, e ele não conseguiu resistir à crise global.

Os pesquisadores analisaram a taxa de suicídio comparando as pessoas empregadas com as desempregadas antes e durante a crise econômica. Para isso, eles usaram dados de mortes no Brasil de 2011 a 2016. Os resultados mostram que, entre os desempregados, a taxa de suicídio diminuiu de 2,66 mortes a cada 100 mil pessoas em 2011 para 2,46 em 2016. No entanto, entre os empregados, a taxa aumentou de 5,52 para 6,89 mortes a cada 100 mil no mesmo período.

Isso nos mostra que o suicídio é um problema complexo com várias causas, e é influenciado por fatores sociais, incluindo a pressão no trabalho. Surpreendentemente, o estudo sugere que ter emprego pode ter um impacto mais negativo na saúde mental dos trabalhadores do que estar desempregado.

Além disso, falta de trabalho e a realização de trabalhos não remunerados podem ter um impacto significativo na saúde mental das pessoas. É importante que as pessoas tenham acesso a empregos remunerados e que o trabalho não remunerado seja valorizado e reconhecido. Além disso, é importante que as pessoas tenham acesso a serviços de saúde mental para ajudá-las a lidar com os problemas de saúde mental associados à falta de trabalho e ao trabalho não remunerado.

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