Polícia Federal prendeu na última terça, 19, um general da reserva, ex-integrante do governo de Jair Bolsonaro (PL), além de outros três oficiais militares e um policial federal, acusados de envolvimento em um plano que incluía o assassinato do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice, Geraldo Alckmin, e o sequestro e execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
A Operação Contragolpe é uma continuação do inquérito sobre uma "organização criminosa" suspeita de tentativa de golpe de Estado e de abolição do estado democrático de direito após as eleições presidenciais de 2022, vencidas por Lula no segundo turno por margem estreita.
Os desdobramentos aprofundaram as investigações sobre Bolsonaro e seus aliados, com destaque para o envolvimento do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, general Braga Netto, e do general reformado Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Fernandes, que foi preso, teria elaborado um documento que detalhava ações como o envenenamento de Lula, o assassinato de Alckmin e a explosão de Moraes. A PF aponta que Bolsonaro, em dezembro de 2022, buscava apoio das Forças Armadas para concretizar um golpe de Estado.
As informações que levaram à operação vieram de materiais apreendidos em fevereiro na Operação Tempus Veritatis. Entre os presos, além de Fernandes, estão o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, o major Rafael Martins de Oliveira, o major de Infantaria Rodrigo Bezerra de Azevedo, e o policial federal Wladimir Matos Soares, acusado de repassar dados sobre a segurança de Lula. Já o capitão do Exército Lucas Garellus, investigado por monitorar Moraes, foi alvo de buscas.
Os envolvidos são descritos como militares de alta performance, conhecidos como “kids pretos”, responsáveis por ações de grande impacto. A investigação atribui a Braga Netto o papel de articulador do plano, que incluía a "Operação Punhal Verde e Amarelo", com estratégias para executar os assassinatos.
O plano foi detalhado em uma reunião na casa de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022, onde foi apresentado e aprovado o planejamento operacional. Caso o golpe se concretizasse, ele coordenaria um suposto “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”. Além disso, o pedido de autorização da operação pela PF ao STF incluiu a possibilidade de indiciamento de Bolsonaro, com um relatório de 221 páginas que destaca o envolvimento direto do ex-presidente.
Três documentos centrais foram encontrados durante as investigações: um descrevendo os métodos para assassinar Lula, Alckmin e Moraes; outro com um plano estratégico dividido em cinco fases para a ruptura institucional; e a minuta de um gabinete de crise que controlaria o País após o golpe. A PF concluiu que o grupo, composto majoritariamente por militares treinados, utilizava conhecimento técnico militar avançado para coordenar as ações ilícitas.
Entre as estratégias descritas no plano, o assassinato de Lula seria realizado por envenenamento ou uso de substâncias químicas, aproveitando a saúde fragilizada do então presidente eleito. Já Alckmin seria eliminado para inviabilizar a chapa vencedora. Moraes, por sua vez, seria alvo de um atentado com explosivos ou envenenamento, com armamentos pesados sendo citados para execução.
A PF também encontrou evidências de que Fernandes imprimiu o plano da "Operação Punhal Verde e Amarelo" no Palácio do Planalto em duas ocasiões, levando os documentos ao Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro estava presente. Além disso, áudios interceptados revelam que Fernandes relatou conversas com o ex-presidente em que ele teria demonstrado disposição para ações até o fim de seu mandato.
As investigações ainda apontam que um grupo no aplicativo Signal, associado ao plano "Operação Copa 2022", monitorou Moraes e planejava seu assassinato, mas desistiu devido ao adiamento de uma sessão no STF. O policial federal preso teria passado informações sigilosas sobre a segurança de Lula a aliados de Bolsonaro, além de se colocar à disposição para o golpe.
As ações coordenadas ocorreram em Goiás, Rio de Janeiro, Amazonas e no Distrito Federal, ligando cronologicamente os envolvidos ao planejamento do golpe, incluindo tentativas de convencer as Forças Armadas a apoiar a ruptura institucional. As investigações permanecem em curso, com desdobramentos que podem levar ao indiciamento de Bolsonaro e outros envolvidos.