
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, declarou que sente orgulho de ter participado do processo de "desmanche" da Operação Lava Jato e reafirmou a sua visão de que a investigação conduzida em Curitiba foi uma "organização criminosa". A declaração foi feita durante a Brazil Conference, evento promovido por estudantes brasileiros das universidades de Harvard e MIT.
A palavra "desmanche" foi inicialmente utilizada por um dos presentes na plateia, sendo em seguida citada pelo próprio ministro.
Questionado sobre o processo de suspeição do ex-juiz Sergio Moro e se, de fato, houve o "desmanche" da Lava Jato, Gilmar Mendes afirmou que, desde o início, passou a desconfiar de abusos cometidos por investigadores da operação, suspeitas que mais tarde foram confirmadas pela chamada "Vaza Jato", que culminou na Operação Spoofing.
"Percebi que havia exageros, que estávamos mantendo as prisões preventivas e só fazíamos as libertações após as pessoas fazerem delações", disse o ministro.
As investigações mencionadas por Mendes revelaram mensagens privadas entre autoridades da Lava Jato, interceptadas por um hacker e obtidas em 2019 pelo site The Intercept Brasil. As mensagens expuseram práticas voluntariosas e atitudes controversas, demonstrando a colaboração ilegal entre o julgador e os investigadores.
"Vi que aquele momento era decisivo e passei a dizer que aquilo ia dar errado. Fico orgulhoso desse processo que você chamou de desmanche da Lava Jato, porque era uma organização criminosa. O que eles faziam em Curitiba era criminoso", completou o ministro.
Em seguida, Gilmar Mendes foi questionado sobre o argumento de bolsonaristas que defendem o afastamento de Alexandre de Moraes da investigação sobre fake news, alegando que ele seria tanto vítima quanto julgador. O ministro reafirmou que não há motivo para a suspeição do colega de STF.
"Ele já foi feito relator do processo e, por isso, vem sendo atacado. Seria muito fácil para qualquer investigado afastar o julgador com base em impropérios. É disso que se cuida", explicou Gilmar. "Ele não é suspeito, não está impedido, não está julgando por seus próprios interesses. Não se pode nem de longe comparar Alexandre com Moro. Moro, de fato, se associou a Bolsonaro", afirmou.
Gilmar também comentou sobre sua conversa com o ex-presidente Jair Bolsonaro, mencionando que, na ocasião, disse que Bolsonaro "acertou ao contratar Moro para ser ministro da Justiça e depois devolvê-lo ao nada".
O ministro ainda fez uma defesa do STF, rebatendo as críticas de ativismo, especialmente no que diz respeito a ações recentes, incluindo aquelas que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Mendes, o STF age dentro dos limites da Constituição.
"Se houve ativismo, isso decorre da Constituição, do nosso modelo constitucional, e isso, a meu ver, ocorre para o bem", disse.
A viagem de Gilmar Mendes aos Estados Unidos ocorre em meio a uma ofensiva do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que busca sanções contra o ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaristas também pediram sanções ao ministro Gilmar, por considerá-lo cúmplice das supostas violações à liberdade de expressão de Moraes.
A Brazil Conference deste ano é a 14ª edição do evento, que é organizado por alunos brasileiros de Harvard. No ano anterior, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, esteve presente.