Uma mobilização nacional para a identificação de pessoas desaparecidas está em curso em todo o Brasil, utilizando o DNA de familiares como ferramenta principal para resolver casos de desaparecimento. Com pontos de coleta espalhados pelo país, incluindo diversas unidades em Goiás, a campanha busca criar um vínculo entre os perfis genéticos armazenados nos Bancos de Perfis Genéticos Estaduais, Distrital e Nacional e aqueles fornecidos pelos familiares.
O processo começa com a coleta de amostras de DNA de familiares próximos, como pais, filhos e irmãos, recomendando a participação de pelo menos dois membros para maior precisão. O material genético é analisado e registrado em bancos de dados, sendo constantemente comparado com perfis de pessoas desconhecidas.
Quando uma correspondência é encontrada, a família é notificada, oferecendo respostas sobre o paradeiro do desaparecido. Se não houver correspondência imediata, o DNA permanece no sistema para garantir a continuidade da busca.
Para compreender melhor o processo, o Diário da Manhã conversou com a perita criminal Laryssa Silva de Andrade Bezerra, coordenadora do Laboratório de Biologia e DNA Forense, que explicou como cada etapa é realizada, desde a coleta das amostras até a possível identificação
O processo de cruzamento de perfis genéticos
Laryssa descreveu o início do processo, que começa com a coleta de amostras de DNA dos familiares de primeiro grau da pessoa desaparecida, como pais, filhos e irmãos biológicos. Segundo ela, essas amostras podem ser obtidas através de um swab, um cotonete que é passado na mucosa oral, ou pela coleta de uma gota de sangue do dedo. "Essas amostras são enviadas para laboratórios de genética forense, onde o DNA é extraído e os perfis genéticos são criados", explicou.
Esses perfis são inseridos em bancos locais e no Banco Nacional de Perfis Genéticos. De acordo com a Coordenadora, o sistema realiza comparações automáticas e contínuas entre os perfis inseridos e aqueles já armazenados, que incluem DNA de pessoas de identidade desconhecida, vivas e falecidas. "Caso uma correspondência genética seja encontrada, um perito criminal analisa os resultados e, se confirmado o vínculo, um laudo é emitido", afirmou. A notificação da família é feita através do delegado de polícia responsável pela investigação.
A importância da coleta de DNA de múltiplos familiares
Ela destacou ainda que a eficácia do processo de identificação aumenta significativamente quando o DNA é coletado de mais de um familiar. Laryssa recomendou que, sempre que possível, dois ou mais familiares de primeiro grau participem da coleta. "Isso facilita o processo de confirmação da identificação, pois aumenta as chances de encontrar uma correspondência genética significativa", esclareceu.
Ao abordar a integração entre os bancos de perfis genéticos estaduais, distrital e nacional, a perita mencionou que essa coordenação é realizada através do Banco Nacional de Perfis Genéticos, gerido pela Polícia Federal. "Os dados são enviados continuamente de forma automática, realizando o cruzamento de dados de todos os estados, Distrito Federal e o próprio laboratório da Polícia Federal", explicou. Laryssa ressaltou que, embora não seja possível precisar um tempo médio para a obtenção de uma correspondência, cada novo perfil inserido aumenta as chances de resolução dos casos.
Avanços tecnológicos na análise de DNA
A períta também discutiu os avanços tecnológicos incorporados ao processo de análise de DNA. Ela explicou que novas tecnologias, como equipamentos e insumos mais modernos, foram implementadas para aumentar a velocidade e a eficiência na identificação de pessoas desaparecidas. "Esses avanços têm contribuído significativamente para o fortalecimento da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), fornecendo materiais aos laboratórios forenses que agilizam o processo e melhoram a precisão das identificações", concluiu.
A campanha tem como objetivo facilitar o processo de identificação e oferecer um caminho para aliviar o sofrimento de famílias que, há anos, vivem com a incerteza sobre seus entes desaparecidos. A participação nesta mobilização é vista como uma forma de solidariedade que pode trazer respostas para muitas famílias no Brasil.
Todas as unidades da Polícia Científica de Goiás estão atuando como pontos de coleta de DNA no estado. Os telefones e endereços estão disponíveis nas redes sociais do órgão em comentários afixados. Para mais informações ou para agendar a coleta, entre em contato com os números fornecidos para cada localidade.
Em Goiânia - Endereço: Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues. Avenida Engenheiro Atílio Correia Lima, 1223, Setor Cidade Jardim - Telefone para agendamento das coletas: (62) 98140-4071 (WhatsApp)
E Aparecida de Goiânia - Endereço: 1ª CRPTC – Coordenação Regional de Polícia Técnico-Científica de Aparecida de Goiânia. Rua 01, s/n, Vila São Joaquim - Telefone: (62) 3548-2125.
A realidade dos desaparecimentos no Brasil
O desafio dos desaparecimentos de pessoas no Brasil é substancial. O gráfico a seguir compara o número de desaparecidos e reencontrados no Brasil em 2023, conforme os dados do Anuário da Segurança Pública.
Ele ilustra os 80.317 casos de desaparecimento registrados e no mesmo período, 52.970 pessoas foram encontradas representando um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior, embora isso não signifique que todas elas tenham desaparecido no mesmo ano.
Tipos de desaparecimentos
Os desaparecimentos no Brasil podem ser classificados em várias categorias, cada uma com suas características e circunstâncias específicas:
Desaparecimento voluntário: Quando a pessoa decide se ausentar por conta própria.
Desaparecimento involuntário: Envolvendo sequestros, tráfico de pessoas ou outros crimes.
Desaparecimento por acidente: Ocorrências acidentais, como afogamentos ou quedas.
Desaparecimento relacionado à saúde mental: Pessoas com distúrbios mentais que perdem a capacidade de se orientar.
Desaparecimento forçado: Aqueles em que a pessoa é levada contra vontade em sequestros, como os ligados a contextos de repressão política, como durante a ditadura militar.
Desaparecimento de crianças e adolescentes: Muitas vezes por fuga ou sequestro.
Desaparecimento de idosos: Envolvendo condições como demência, que dificultam a orientação.
Desaparecimento em contexto de violência doméstica: Pessoas que desaparecem ao tentar escapar de abusos.