Docentes da maioria das universidades federais e dos institutos federais estão em greve há várias semanas. Uma das questões mais sensíveis que têm contribuído para a manutenção do movimento grevista é a recusa do governo em oferecer o percentual mínimo, pleiteado pelo movimento, de “aumento” de 3,5% no salário de tais servidores ainda no ano de 2024. O governo bateu o pé em 0%!
Depois de estabelecida a greve, várias rodadas de negociação foram realizadas entre os sindicatos mais representativos dos docentes das universidades federais (Andes) e dos institutos federais (Sinasefe). Nelas, o governo chegou a oferecer um aumento salarial de 9% para toda a categoria, a partir de janeiro de 2025, e mais 3,5%, em 2026. Neste ano, já recebemos um aumento do vale-alimentação que era de R$ 658 mensais para o atual valor de R$ 1 mil. Além disso, os docentes com filhos com idade inferior a 6 anos recebem o chamado auxílio-creche que já passou, neste ano, de R$ 321 para R$ 484,90 mensais por filho.
Diante dessa proposta do governo, alguns colegas professores, em conversas privadas, manifestaram-se a favor do encerramento da greve e consideraram aceitável a proposta do governo, embora não fosse a desejada. Na minha leitura, muitas outras variáveis impelem-nos ao encerramento imediato da greve e, destaco aqui, a perspectiva política. Em toda a história do País, os governos que mais se empenharam para o desenvolvimento da educação federal foram o de Lula e o de Dilma, enquanto, do outro lado, a experiência mais nociva foi a do governo anterior, de extrema direita, de Jair Bolsonaro. Contribuir para desgastar o atual governo Lula é, no cenário em que estamos, fortalecer a extrema direita, o bolsonarismo e, portanto, significa alimentar o que há de pior para aqueles que acreditam no papel da educação pública, gratuita e de qualidade para o desenvolvimento do País e para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes.
Apesar da referida proposta do governo, os sindicatos Andes e Sinasefe decidiram por manter a posição de greve. Isso, claro, depois de consultarem suas bases.
No entanto, suponho que a maioria dos docentes, em todo o Brasil, seja dos institutos federais, seja das universidades federais, é contrária à continuidade da greve. Ressalto que é apenas uma suposição que pode ser verificada facilmente para comprová-la ou não. Basta uma consulta fora de ambientes frequentados por uma minoria.
O caso concreto que vi suceder nessa greve de consulta à maioria dos docentes — não somente àqueles que vão às reuniões sindicais ou as dos comandos de greve — foi o da Universidade Federal de Goiás. Nessa consulta, ainda no mês de maio, 820 docentes votaram pelo fim da paralisação, 720 votaram pela sua manutenção e foram computadas 9 abstenções. O Estatuto do Adufg-Sindicato, que organizou semelhante consulta, estabelece que decisões sobre greve devem efetuar-se por via de plebiscito eletrônico e isso porque aqueles que elaboraram o referido estatuto, a partir de amplas discussões entre os interessados, compreenderam que, desse modo, é auferida a posição da maior parcela dos membros da categoria.
Giles Deleuze afirmou que Michel Foucault ensinou-nos sobre a indignidade de falar pelos outros e, partindo desse ensinamento, avalio que, quando um sindicato fala e posiciona-se, sem consulta verdadeiramente democrática àqueles que representa, não expressa a voz da categoria supostamente representada e, por conseguinte, coloca-se na posição de falar pelos outros. A minha voz é pelo fim da greve, entretanto ela e a de muitos docentes, talvez da maioria, não é ouvida.