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Como Vinicius Jr. se transformou em ícone da luta antirracista no mundo

Jogador terá história narrada em documentário da Netflix que estreará no ano que vem. Direção de time vetou gravação de cenas em estádio em que houve injúria

Vini Jr., camisa sete da Seleção Brasileira - Foto: Joilson Marconne/CBF Vini Jr., camisa sete da Seleção Brasileira - Foto: Joilson Marconne/CBF

Vinicius Jr., camisa sete do Brasil e do Real Madrid, ultrapassou há anos as fronteiras do futebol. Símbolo da luta antirracista, o brasileiro fez história nesta semana ao conquistar importante vitória fora das quatro linhas, levando três adeptos do Valencia que o insultaram no ano passado durante partida a serem condenados pela Justiça a oito meses de prisão.

Foi uma decisão inédita. Ainda mais se pensarmos que o racismo sequer é tipificado como crime na Espanha, ao contrário da realidade brasileira – a Lei 7.716/89 pune desde 1989 todo tipo de discriminação, seja em razão de nacionalidade, raça, sexo, cor ou idade.

Segundo o Diário Oficial da União, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou em 2023 outro texto. A Lei 14.532 estabelece a injúria racial como crime de racismo, com pena de dois a cinco de reclusão. Fixa ainda racismo como crime que atenta contra a coletividade, enquanto injúria se dirige ao indivíduo – tipificação na qual se encaixaria o caso de Vini Jr.

Fernanda Abreu, cantora identificada com a brasilidade, declarou ao Diário da Manhã, em passagem por Pirenópolis, que a cultura brasileira é o orgulho “que nós temos”. “Vini Jr. passa um perrengue danado de racismo. É um cara que passou por muito preconceito”, afirmou. Conforme o jornalista Ruy Castro, no livro “Os Garotos do Brasil”, a ginga é um substantivo brasileiro de origem africana que significa dança para enganar o adversário.

Quando chegara ao Real Madrid, em 2018, os ataques racistas apareceram pela primeira vez. Vini Jr. era chamado de “mono” – expressão em língua espanhola semelhante a macaco. Torcedores do Barcelona o humilharam, simpatizantes do Mallorca o ofenderam e adeptos do Real Valladolid o xingaram, mas os fãs do Atlético de Madrid mataram a civilidade.


		Como Vinicius Jr. se transformou em ícone da luta antirracista no mundo
Torcedores do Atlético de Madrid 'enforcam' Vini Jr. antes de clássico. Foto: Reprodução


Parte da torcida colchonera reagiu a gol de Vini Jr. com gesto nazista, num jogo disputado em 2022. Em seguida, a polícia de Madri descobriu que os torcedores tinham vínculo com a Frente Atlético (FA), agremiação simpática a Adolf Hitler que já cometeu ao menos dois assassinatos. A FA se originou na Frente de La Juventud, ligada ao partido Fuerza Nueva.

Não bastasse ter nascido para celebrar a memória do ditador Francisco Franco, o grupo atleticano guarda familiaridade ideológica com outras torcidas. Até o rival Real Madrid, time em que Vini Jr. joga e onde é vencedor, tem simpatizantes da extrema-direita – os ultras sur. O Valencia também possui sua própria agremiação inclinada ao nazismo, os Yomus.

Durante partida contra o Valencia, no estádio Mestalla, em 2023, Vini Jr. sofreu uma falta aos 15 minutos do segundo tempo. Foi chamado de “mono” pelos torcedores adversários, e os insultos não pararam. Nem a insistência do locutor para que os xingamentos acabassem sob pena de o jogo ser suspenso surtiu algum efeito. O brasileiro recebeu até um mata-leão.

Não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos Vini Jr., jogador de futebol

Ao se libertar do atacante espanhol Hugo Duro, acertou o jogador no rosto – e o juiz lhe mostrou o cartão vermelho. Vini Jr., então, disse que a La Liga não fazia nada para frear os racistas. “Seguem indo aos estádios e assistindo ao maior clube do mundo de perto e a La Liga segue sem fazer nada”, tuitou, acrescentando que ficaria com a cabeça erguida e comemoraria suas vitórias com a camisa merengue.

Netflix

Vini Jr. retornou ao Mestalla em março deste ano, num duelo contra o Valencia pelo Campeonato Espanhol. Após marcar um gol, o camisa sete parou em frente à torcida adversária e fez gesto do punho cerrado – símbolo dos Panteras Negras. Os dois gols do Real Madrid saíram de seus pés. Graças a ele, inclusive, o Real não se complicou na partida.

Necessária mas dolorosa, a luta antirracista do craque pode ser descrita como inédita. Ao contrário da música pop, em que os artistas defendem causas sociais, é possível contar nos dedos da mão quantos jogadores se posicionam sobre as mazelas do mundo. Vini Jr. quebra o silêncio. Não à toa, é representado pela empresa Roc Nation, do rapper Jay-Z.


		Como Vinicius Jr. se transformou em ícone da luta antirracista no mundo
Vini. reedita Panteras Negras em jogo contra Valencia, em março deste ano. Foto: Instagram/ Real Madrid

Sabendo que numa sociedade racista não basta ser racista, é necessário ser antirracista (conforme ensina a filósofa estadunidense Angela Davis), a história de Vini Jr. chamou atenção da Netflix. Com estreia prevista para 2025, o doc retratará as barreiras preconceituosas dribladas pelo brasileiro nos gramados espanhóis. Segundo a imprensa local, a direção do Valencia vetou que a equipe gravasse imagens no estádio Mestalla.

Sob direção de Andrucha Waddington, o longa-metragem reconstruirá a trajetória do craque desde as categorias de base do Flamengo até a ascensão no Real Madrid. Waddington mostrará ainda as melhores atuações do brasileiro pela Liga dos Campeões, em cuja final meteu uma bola entre as pernas do zagueiro Julian Ryerson, do Borussia Dortmund.

“Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas jogar futebol. Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos”, publicou o jogador na rede social X, antigo Twitter. Vini Jr. entra em campo hoje com a Seleção Brasileira, a partir das 20h, para enfrentar os EUA.

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