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Festival se esforça para trazer cultura de show sertanejo ao público de rap

Desabamento de rampa deixou 40 feridos durante o Festival Rap Mix, no Estádio Serra Dourada. Como era esperado, Racionais entregou melhor show do evento

Foto: Andréia Pires Foto: Andréia Pires

O Festival Rap Mix, muito mais embalado pelo funk, se esforçou para trazer ao Serra Dourada no último domingo, 9, e madrugada de segunda, 10, comportamento sertanejo a um público acostumado às batalhas de rimas na periferia goianiense. Resultado prático: camarote, gente segregada, uns querendo consumir estilo de vida - música? - e outros se esforçando para assistir Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KI Jay subirem ao palco lá pelas tantas. E, bem, valeu o esforço.

Era por volta da 1h quando o DJ soltou na pista uma soul music que remetia os ouvidos mais atentos à musicalidade dos anos 70. A multidão, em estado de êxtase, sabia que Brown daria suas caras no Festival Rap Mix. Perfeitamente justificável: Racionais MC´s se diferenciam de quase tudo o que fora produzido na música brasileira dos anos 90 pra cá. Letras politizadas, fabulário do delírio cotidiano, versos contestadores. O barato é louco, ó.

Foi um baile. Ou, se preferir, um testemunho do inferno. Formado na década de 1980, os Racionais possuem som imbricado na cultura candomblecista, onde Mano Brown e Ice Blue - os B.B Boys, aliás - se iniciaram na música. Brown, por exemplo, chegou a fazer parte de um grupo que tocava samba. Já Rock e KL vinham da zona norte de São Paulo. A música, como o público goianiense teve chance de ver, é coisa séria para os quatro. E não é para menos.

Aos poucos, os quatro se tornaram conhecidos no circuito de bailes de música negra e, então, KL Jay desperta atenção pela habilidade com que dança break. Edi manda bem no rap, até abrir show para artistas como Thaíde & DJ Hum o cara abrira. Eram frequentadores do Largo São Bento, um reduto da cultura hip-hop, em São Paulo. Quem fundiu as duas duplas foi o produtor Milton Salles, em 1988, passando a empresariá-los.

Se o capitalismo nos obriga a ser bem sucedido, como preconizou Edi Rock em “A Vida é Desafio”, a reportagem sentiu na pele as poderosas letras construídas por Brown. Arrepiou-se, emocionou-se. São como qualquer passagem do “Capítulo 4, Versículo 3”. Ele tem, sim, lugar garantido entre os maiores letristas de nossa música. Está ao lado de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Com Racionais, a fúria negra ressuscita outra vez.

Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KI Jay são gigantes. Tão enormes quanto BB King ou Marvin Gaye. Isso ficou explícito assim que o funkeiro Don Juan encerrou sua apresentação, na qual abusou de forçadas e irritantes interações com o público. Foi um dos que mais quis conversar com a plateia, mas isso o expõe a riscos desnecessários, como desafinar quase sempre, cantar fora do tempo e mandar as pessoas tirarem seus pés do chão a cada verso.

Rampa desabada

Ah, e pedir para que a produção lhe traga, claro, uma dose de uísque. Funk ostentação tem disso. Sucesso nas plataformas de streaming, o cantor se inclui numa safra de artistas que viraram fenômenos do Spotify e, de lá, vão para palcos imensos. É interessante vê-los por um motivo: as inclinações do mercado fonográfico. Todos os funkeiros, por exemplo, exibem timbre vocal anasalado, que também é - veja você - predominante no sertanejo universitário.

Transitar pelo Serra Dourada não foi tarefa fácil. Diário da Manhã precisou ficar próximo ao palco norte, no bar, e se viu com limitadas possibilidades de fotografar o evento. A praxe, em festivais de grande porte, é que o jornalista tenha acesso à primeira fileira do palco. Assim é no Bananada, Porão do Rock, João Rock - isso só citando eventos para os quais a reportagem já foi convidada. Ainda assim, é importante reconhecer o preço acessível dos ingressos: a partir de R$ 40. Nada mal para ver Racionais, show sempre importante de ver.

Quase houve uma catástrofe. Um desabamento de uma rampa deixou 40 feridos neste domingo. A engenhoca dava acesso ao front stage, área mais próxima de um dos palcos. Dentre as vítimas, há uma maioria de casos de escoriações e ferimentos leves, porém também há registros de fraturas expostas e até suspeita de traumatismo craniano.

O acidente aconteceu por volta das 23h15, pouco tempo após o show do artista Matuê, artista bastante ouvido pela Geração Z. O Corpo de Bombeiros, em parceria com Polícia Militar e os brigadistas do evento, atuaram para socorrer as vítimas, que foram encaminhados para hospitais da região por meio Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A corporação diz que foram atendidas 11 vítimas, todas conscientes.

“Foram encaminhadas para hospital como Hugo, Heapa, Hospital Ortopédico, Hugol e Hospital de Acidentados”, afirma a corporação, em nota. Já a organização do Festival Rap Mix declara que as causas do acidente ainda estão sendo apuradas. “Ressaltamos que toda a estrutura montada para o festival continha alvará. Os organizadores estão investigando as razões do incidente da rampa, e estão identificando as vítimas para prestar apoio”, diz.

O Festival Rap Mix afirma que a estrutura das rampas de acesso tinham alvará. E garante que os organizadores investigam o que teria sido o fator preponderante para o acidente. Mais cedo, um grupo de pessoas desceu da arquibancada e invadiu o front stage, área de open bar. O festival teve todos os seus ingressos vendidos e seus shows transmitidos pelo canal Multishow, do Grupo Globo. Artistas importantes do rap, como Racionais MC’s, Djonga, Felipe Ret, Xamã, faziam parte do line-up. (Colaborou Giovanna Castro/ AE)

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