
Os grandes bancos cobram a saída do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, de uma posição de comando do novo conglomerado do BRB (Banco de Brasília). O assunto apareceu em negociações para aquisição da fatia do Master que não faz parte da transação com a instituição do governo do Distrito Federal.
Pelo acordo de compra e venda anunciado, que ainda precisa ser aprovado pelo Banco Central, o BRB passa a atuar na governança do Master. Vorcaro deixa de ser o presidente do banco, mas passa a ser o presidente do conselho de administração do Master, que será chamado de BRB Corporate.
As duas empresas continuariam operando de maneira independente, cada uma com seu CNPJ: o BRB, público, e o Master, privado.
A permanência de Vorcaro desagrada especialmente a André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, que participa de conversas com Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para a formação de um consórcio para adquirir ativos remanescentes do Master.
Entre esses ativos estão precatórios, direitos creditórios de ações judiciais, ações de empresas e uma fatia da carteira de crédito —essa última passou a ser considerada ao longo dos últimos dias. O volume desses ativos subiu de R$ 25 bilhões para R$ 33 bilhões, de acordo com os últimos valores apontados pela auditoria do BRB.
Por meio de sua assessoria de comunicação, Esteves nega enfaticamente que queira Vorcaro fora de uma posição de comando no BRB Corporate. O BTG já divulgou três comunicados ao mercado informando que nunca fez proposta para o Master. Os demais bancos não comentaram. Interlocutores de Vorcaro afirmam que a hipótese não faz sentido.
Trata-se de um novo capítulo da disputa entre os banqueiros que, como mostrou a Folha de S.Paulo, atualmente divide a cúpula do poder em Brasília.
De um lado, aliados de Vorcaro criticam o que veem como agressividade de Esteves e dizem que ele sufocou o Master nos últimos meses por meio do BTG e disseminou versões negativas e exageradas sobre a situação do banco concorrente.
De outro, aliados de Esteves dizem que ele se posiciona de maneira incisiva porque acredita que Vorcaro não pode ser recompensado por sua estratégia de negócios que coloca em risco o equilíbrio do sistema financeiro e, em especial, o FGC —que é alimentado principalmente pelos grandes bancos.
Por essa lógica, afirmam, deixá-lo no mercado e ainda em posição de destaque seria criar um incentivo ao surgimento de novas situações como a do Master.
Independentemente do tamanho da operação do BRB ao final do trabalho da auditoria, há uma preocupação com o fato de que um banco estatal passaria a ter a placa de um banco privado, com Vorcaro no comando do conselho de administração. A saída de Vorcaro do controle ou da gestão seria uma forma de garantir que ele não teria influência no rumo do novo conglomerado.
Para o BRB, por sua vez, a permanência do banqueiro no conselho não é considerada um problema. Para membros da instituição, a decisão cabe ao Banco Central, que precisa aprovar a operação para ela ser efetivada, além do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Em entrevista à Folha de S.Paulo no dia seguinte ao anúncio da transação, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, informou que o banco estatal passará a ter uma participação ativa na governança do Master, indicando metade menos um da diretoria, do conselho de administração, do comitê de auditoria e do conselho fiscal. O plano prevê uma série de órgãos de assessoramento ao próprio conselho de administração do BRB.
Vorcaro tem dito a interlocutores ouvidos pela reportagem que não faria sentido essa exigência de que ele não faça parte do conselho de administração, pois representaria estatizar o Master. Ele tem manifestado confiança de que as conversas com o BC estão próximas de um desfecho e que a operação com o BRB será aprovada.
No BC, o que está sendo discutido é se o BRB pode comprar o percentual do Master. O BC tem interesse em resolver a operação completa envolvendo o banco paulista. O presidente da instituição, Gabriel Galípolo, reuniu no último sábado (5) os CEOs de Bradesco, Itaú, Santander e BTG com o presidente do FGC, Daniel Lima.
Vorcaro vem conversando com alguns bancos e gestores de fundos de investimentos para negócios com os ativos que não ficarão com o BRB.
Apesar da posição de Vorcaro, pessoas que participam das conversas com o BC avaliam que o Banco Central não aprovará a operação no tamanho que ela foi proposta pelo BRB.