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Copom alerta sobre risco fiscal e piora na inflação pode prolongar a alta de juros

Copom disse também ter enfatizado o desafio de estabilizar a dívida pública devido a aspectos mais estruturais do orçamento público

Copom alerta sobre risco fiscal e piora na inflação pode prolongar a alta de juros

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reforçou o alerta sobre risco fiscal na ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (12) e disse que uma piora adicional das expectativas de inflação pode prolongar a alta de juros.

O colegiado do BC destacou que a percepção dos agentes do mercado financeiro sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vem tendo impactos relevantes sobre as expectativas e o câmbio.

Ao reforçar a necessidade de sustentabilidade das regras fiscais, o comitê falou em transparência, previsibilidade e compromisso. No comunicado já tinha defendido a "apresentação e execução" de medidas estruturais para o orçamento fiscal.

"Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem [deslocamento em direção à meta] das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", afirmou no documento.

No debate, o Copom disse também ter enfatizado o desafio de estabilizar a dívida pública devido a aspectos mais estruturais do orçamento público.

Foi mencionado ainda que a redução de crescimento dos gastos, sobretudo de forma estrutural, pode colaborar para o crescimento econômico no médio prazo pelos efeitos nas condições financeiras, no prêmio de risco [rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil] e na melhor alocação de recursos.

O colegiado, por sua vez, disse incorporar em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.

Na última quarta (6), o Copom decidiu, por unanimidade, intensificar o ritmo de alta de juros e elevou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.

Na ata, o colegiado do BC repetiu que o ambiente externo permanece "desafiador", apontando como principal fator de incerteza a possível mudança na política econômica nos Estados Unidos, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.

"Com relação aos Estados Unidos, permanece grande incerteza sobre o ritmo da desinflação e da desaceleração da atividade econômica", disse o colegiado.

"Em paralelo, a possibilidade de mudanças na condução da política econômica também traz adicional incerteza ao cenário, particularmente com possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação", acrescentou.

Ainda assim, o comitê continua trabalhando com um cenário de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana.

O ciclo de alta de juros no Brasil teve início na reunião anterior, em setembro, quando o Copom optou por um movimento mais gradual, de elevação de 0,25 ponto percentual –primeiro aumento feito no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na ata, o comitê disse que julgou adequado intensificar o ritmo de elevação da Selic considerando a necessidade de uma política de juros mais contracionista. Isso significa uma atuação que ajude a frear a força da atividade econômica de forma a controlar o avanço da inflação.

No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu de 4,3% para 4,6% –acima do teto da meta. Para 2025, houve alta de 3,7% para 3,9%. A estimativa para o 2º trimestre de 2026 –período em que o BC se propõe a atingir o alvo– situa-se em 3,6% (era 3,5% em setembro).

A meta central é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

O comitê ressaltou que levar as expectativas em direção à meta é um "elemento essencial" para assegurar a convergência da inflação com o menor impacto possível sobre a atividade econômica. No documento, disse também que a desancoragem –jargão utilizado pelos economistas para se referir às expectativas distantes do alvo– é um fator de desconforto comum a todos os membros do Copom.

Na avaliação do comitê, o cenário de curto prazo para a inflação está mais "desafiador". Entre os fatores, destacou o aumento de preços de alimentos, puxado pela estiagem, a desvalorização cambial e a inflação de serviços. "De fato, tem-se observado uma interrupção no processo desinflacionário", acrescentou. Outro ponto de preocupação é o dinamismo do mercado de trabalho.

O Copom afirmou que, em função das incertezas, prefere reforçar a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo e deixar seus próximos passos em aberto. O colegiado volta a se reunir nos dias 10 e 11 de dezembro, na última rodada de encontros do ano.

Na interpretação do mercado financeiro, o Copom sinaliza preferência por um alongamento do ciclo de alta de juros a um choque mais intenso no curto prazo.

Para os economistas do C6 Bank, a declaração "reduz a possibilidade de uma nova intensificação no ritmo de ajuste dos juros (de 0,75 ponto percentual) e sugere que, se necessário, o Copom continuará elevando os juros em 0,5 ponto percentual por mais tempo, levando a uma taxa Selic terminal mais alta."

Em relatório, o Goldman Sachs considerou o tom da ata mais duro em relação ao comunicado divulgado após a reunião, com destaque para as preocupações com a questão fiscal. Para o próximo encontro, projetou um novo aumento de 0,5 ponto percentual.

"Mas se o próximo pacote fiscal [do governo Lula] decepcionar e as expectativas de inflação continuarem se deteriorando, vemos um risco material de um aumento maior, de 0,75 ponto percentual", disse.

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