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Narcisismo ou cuidado materno?

Esse termo é resultado de uma carga cultural de costumes colocados pela sociedade

Foto: Reprodução/ Marlos Bakker Foto: Reprodução/ Marlos Bakker

O pensamento de que uma mulher é responsável pelas tarefas domésticas está enraizado desde os tempos passados. A visão não somente de uma dona de casa mas também da mulher que cuida dos filhos, uma babá. Quando o assunto se refere aos cuidadores da criança, usa-se o termo "pais", mas nas reuniões escolares são as mães que são esperadas.

Esse é um grande exemplo de como ainda nos dias atuais está enraizado a ideia de que só a mulher tem o dever de educar e cuidar dos filhos e que o homem é o provedor da casa. De acordo com a psicanalista Vera Laconelli, doutora em Psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) " o discurso do qual a sociedade justifica e reitera o lugar das mulheres - reduzidas à função de mães e trabalhadoras domésticas não remuneradas".

Assim se abastece o "maternalismo", como a expectativa de devoção de uma mãe como estabelecimento para o cuidado dos seus filhos felizes e saudáveis. Como consequência desse título imposto e reduzido ao papel de cuidadora, a mãe se torna uma espécie de entidade desumanizada, como se não tivesse suas escolhas, desejos, sonhos e perspectivas.

A psicanalista Vera Laconelli, descreve no seu livro esse aspecto da visão sobre as mulheres que se tornam mães. O livro leva como título Manifesto antimaternalismo: Psicanálise e Políticas da Reprodução, terceiro livro, que a autora acaba de publicar pela editora Zahar.

O intuito desse livro de acordo com a autora, é proporcionar não somente um diagnóstico sobre o assunto, mas propor mudanças nos eixos pré-estabelecidos pela sociedade. "Não só as mulheres, mas também os homens, e, com certeza, a sociedade como um todo, têm muito a ganhar saindo da mentalidade maternalista", explicou a psicanalista em uma entrevista dada ao Portal BBC News Brasil.

Em entrevista a psicanalista, descreve que no Brasil, com seu passado escravagista, o Brasil trás como herança a figura da babá que já foi a figura da mulher escravizada, que tinha que cuidar dos filhos de seus senhores. Nos tempos atuais as babás deixam até mesmo o seus próprios filhos para cuidar dos filhos de outras famílias.

Mulheres no trabalho

Hoje as mulheres não somente cuidam de seus filhos mas estão presentes também dentro do mercado de trabalho. Desde o século passado, com a revolução sexual, as mulheres tem lutado para ganhar espaços nos locais de trabalho que antes era dominado por homens.

As mulheres falam "Nós queremos ter carreiras, queremos poder ocupar todos os postos que os homens ocupam", destaca a psicanalista.

As mulheres que são mães também enfrentam o grande embate de ser chamadas de "mães narcisistas" quando querem entrar no mercado de trabalho. Isso se dá pela carga cultural que enfatiza que a mulher deve cuidar dos filhos e o homem prover a casa.

Essa ideia, de acordo com a psicanalista, da mãe narcisista, tem relação com a penalização da mulher que quer uma vida para além dos filhos. E ainda, que a mãe narcisista não faria nada muito diferente de que um pai comum faria, que é o fato de cuidar da vida dele e deixar os filhos sobre a responsabilidade materna.

Essa categorização se torna preocupante, pois é uma nomeação, um julgamento moral do papel materno, como se existisse apenas a "mãe" e não várias pessoas com diversas histórias de vida. Esse termo corre o risco de englobar todas as trajetórias de vida e conquistas ao olhar machista de nomear mães que querem seu futuro, capacidade de escolha, direito de ir e vir, como sendo "mães narcisistas".

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