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Titãs prometem show antológico no Oscar Niemeyer, em Goiânia

Repertório foca nos clássicos da banda, boa parte dos quais construídos nos anos 1980

Mundo afora, não há nada parecido com os paulistanos, que tocam com sete membros da formação lendária - Foto: Bob Wolfenson/ Divulgação Mundo afora, não há nada parecido com os paulistanos, que tocam com sete membros da formação lendária - Foto: Bob Wolfenson/ Divulgação

Os Titãs se transmutam, suas letras retratam um país nocauteado, um país ainda sem autoestima, um vice país, vice alegre, viceversa. É, Paulo Leminski, é a tal sina da consciência selvagem versus capitalismo selvagem, como diz título daquele teu release redigido ainda sob impacto dos primeiros choques, chutes e sustos após ter ouvido “em primeiríssima mão e som” o disco “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, base do show titânico desta quinta-feira, 8, às 20h30, no Centro Cultural Oscar Niemeyer.

Se “Cabeça Dinossauro” (1986) delimitou os Titãs em antes e depois da new wave colorida de “Televisão” (1985), “Jesus Não Tem…” acentuou a demolição da ordem social já em curso. Música de quem conheceu a fundo o poço. Som da revolta. Igreja, família e política, estado violência, deixem-me em paz! Daí a banda, por exemplo, estruturar a turnê Titãs Encontro em torno dos elepês. São obras fundamentais na discoteca do rock brasileiro.

Mundo afora, não há nada parecido com os paulistanos, que tocam em Goiânia com sete membros da formação lendária. São músicos responsáveis por desafiar as dinastias de trios ou quartetos, dominantes no movimento BRock, como se percebe no Barão Vermelho (quarteto), Legião (quarteto) e Paralamas (trio). Sete compositores, sete instrumentistas, sete mentes. Sete vozes capazes de dizer, numa boa, porrada nos caras que não fazem nada, defenestrar que a polícia para quem precisa e frasear que a gente não quer só comer.

Ah, e há outro indicativo do atraso brasileiro: os versos não envelheceram. “Não são circunstanciais. Até porque falamos de questões que dificilmente são ou serão superadas, com muita propriedade. Fizemos músicas sobre questões sociais, de amor, de reflexões sobre a vida. Todas têm uma qualidade que permitiu que sobrevivessem ao tempo”, afirma o tecladista Sérgio Britto, que passou a infância no Chile, já que o pai foi perseguido durante a ditadura militar - contra a qual essas letras se insurgem.

Sem Fromer

Com Liminha, produtor que substitui o guitarrista Marcelo Fromer, o início da apresentação deve indicar que a vida até parece uma festa. Paulo Miklos abrirá e fechará o repertório, com “Diversão”, faixa do disco “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, e “Sonífera Ilha”, esta do álbum que leva o nome da banda, de 1984. É certo também que os fãs sentirão saudade de Fromer, falecido em 2001. Mas a filha do músico, Alice Fromer, se juntará à banda para emocionar todos em duas músicas: “Toda Cor” e “Não Vou Me Adaptar”.

Ambas fazem parte do set acústico, até aqui na turnê iniciado por “Epitáfio”, com Britto na condição de tecladista e no papel de solista. Haverá quem chore, outros se lembrarão das dificuldades da vida e terão aqueles que, por vocação punk-anárquica, devem pedir pela volta do rock em estado demolidor. Tudo isso, óbvio, revelará dois pontos: a inegável força do repertório construído por Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto e também como são músicas intergeracionais.

Ao DM, Nando já confessou sentir predileção por “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” entre os álbuns que gravou com a banda. Ele afirmou que a obra é equilibrada e, além de tudo, está bem resolvida nela a equação sonoridade, arranjo, composição e repertório. “Mais até que o ‘Õ Blésq Blom’, embora tenha uma simpatia enorme pelo ‘Tudo Ao Mesmo Tempo Agora’. São discos extraordinários. Incluiria ‘Go Beck’, mesmo sendo ao vivo”, disse o baixista, relembrando o elepê gravado no Festival de Montreux, em 1988.

Os versos de “Lugar Nenhum”, furiosos e venenosos, se juntarão aos de “Desordem”, numa pulsão que, se alimenta chamas rebeldes na juventude, também revela o compromisso do País com o atraso. Um dos pontos mais perceptíveis aos ouvidos, vamos dizer assim, sensíveis é a voz de Branco Mello, mais cavernosa, dando tom mais punk em “Tô Cansado”, “Eu Não Sei Fazer Música” ou “Cabeça Dinossauro”. O músico se submeteu a cirurgia para tratar tumor na hipofaringe e, após o procedimento cirúrgico, ficou sete meses sem cantar.

Se a ideia de Arnaldo, Branco, Charles, Nando, Paulo, Sérgio e Tony é tributar a obra construída por eles nos anos 80, soa bem-vinda a insurreição contra a religião de “Igreja”, música que, anedotas à parte, impulsionou público destruir o teatro Carlos Gomes, no Rio, em 87. Com “Bichos Escrotos” - cadê o coral? -, Miklos dará vazão a todos aqueles que se ressentem pela lama extremista, com a qual o Brasil se lambuzou no mau-cheiro caquistocrata dos últimos anos. Fica a curiosidade para saber como Nando tocará baixo.

Alegria

“O que nos motiva a fazer essa reunião é a alegria de nos encontrarmos e de nos apresentar para uma grande parte do público que nunca viu a banda reunida, além de levar ao palco toda a energia que sempre tivemos, compartilhando isso com os fãs”, diz Paulo Miklos. Arnaldo Antunes, o primeiro a sair, em 91, acrescenta: “Nas poucas vezes em que reencontrei os Titãs nos palcos depois da minha saída, foi sempre emoção regada a muitas risadas, lembranças, histórias compartilhadas. Com essa turnê de dez shows pelo Brasil, teremos a oportunidade de conviver um pouco mais com a cumplicidade que não se extingue”.

Como declarou Leminski no release de “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, desde “Cabeça Dinossauro”, os Titãs fizeram a música/ poesia mais real do BRock. E será isso que o público verá nesta quinta-feira, 8, no Oscar Niemeyer: vão socar a “Cabeça Dinossauro”, dar “Nome aos Bois”, dizer que não confiam em ninguém com “32 Dentes” e que “O Pulso” ainda pulsa. “A impressão que deu na nossa primeira reunião é que, quando a gente começar a tocar, vai fluir tudo na mesma harmonia e simplicidade, como se a gente estivesse nos anos 1980”, avisa Tony Bellotto. Você tem sede de quê?

Titãs Encontro

Quinta-feira, 8

17h30 (abertura dos portões

20h30 (início do show)

Centro Cultural Oscar Niemeyer - Av. Dep. Jamel Cecílio

Ingressos pelo Eventin

A partir de R$ 150

Classificação etária: 16 anos

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