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Planet Hemp repassa carreira e ativismo em disco ao vivo

Obra tem participações especiais de artistas importantes na trajetória do grupo carioca. Desde anos 1990, quando surgiu, Planet defende legalização da maconha

Adivinha quem tá de volta, doutor, pra explorar tua vergonha: Planet Hemp. Com arranjos inéditos, riffs poderosos e letras afrontosas, os maconheiros mais famosos do Brasil lançam no streaming um manifesto ao vivo, um testemunho anti-proibicionista e libertário.

BNegão afirma que há algo marcante em ver público jovem cantando músicas do Planet com empolgação. “Esse disco ao vivo é o registro dessa energia, da nossa conexão com o público e de uma história que não se perdeu no tempo, ao contrário: apenas se fortaleceu. São 30 anos, mas a pressão sonora é a mesma – o Planet Hemp nunca foi só música ”, conta.

Desde a última década, BNegão, Marcelo D2, Formigão, o baterista Pedro Garcia e o guitarrista Nobru Pederneiras construíram bases para o bem-recebido “Jardineiros” (2022), cujo discurso engajado vocifera contra status quo, pastores e milicianos. A maconha, claro, ainda se faz assunto recorrente, sobretudo defesa a medicinal dessa planta proibida.


		Planet Hemp repassa carreira e ativismo em disco ao vivo
Planet Hemp causou alvoroço ao publicar primeiro disco, em 1995 - Foto: Bel Gandolfo/ Divulgação. Marcus Vinícius Beck


Em termos de sonoridade, o rock do Planet preserva referências a Rage Against The Machine, banda que fundiu rap ao metal e traz letra de viés progressista. Ecoa, por vezes, o groove funkeado do Miami Bass, subgênero do hip hop popular entre anos 1980 e 1990. No entanto, o grupo carioca atinge plenitude ao demonstrar pulso roqueiro de verniz punk.

Assim, queimando tudo até a última ponta e mantendo o respeito, o Planet Hemp colocou sete mil pessoas no Espaço Unimed, em São Paulo, onde gravara “Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça”. O show, captado em 11 de julho último, sintetizou três décadas de luta pela maconha, em uma cenografia que emula estufas canábicas de cultivo indoor.

À esquerda, com seus grooves libertários, o baixista Formigão pilota os graves. Já à direita, como se combatesse esse campo político com seu timbre pesado, o guitarrista Nobru impulsionava o som da banda, livrando-nos de todo autoritarismo. É o grito elétrico da liberdade, o dig dig dig (hempa), a distopia, o fim do fim, a ex-quadrilha da fumaça.


		Planet Hemp repassa carreira e ativismo em disco ao vivo
Seu Jorge (à esquerda) e D2: reencontro nos palcos - Foto: Bel Gandolfo/ Divulgação. Marcus Vinícius Beck


“Avisa lá, avisa lá que a ex-quadrilha da fumaça está de volta pro terror dos fascistinhas de m…”, anuncia D2, em certa altura do clássico “Legalize Já”, lançado no ruidoso “Usuário”, de 1995. O palco, ladeado por luzes verdes, recebe artistas que reenergizaram a música brasileira. Dessa vez, ao vivaço, Planet ressurge — e recicla — sua própria lenda.

Para D2, “Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça” ultrapassa limites da celebração. “É a reafirmação de tudo que sempre defendemos desde o começo. Cada faixa e participação trazem um pedaço dessa história, e ouvir isso ao vivo, com a energia do público, é lembrar o motivo pelo qual começamos. São 30 anos e a chama não se apagou, nem se apagará”, diz.

“Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça”, de cara, manda papo-reto. “Essa bendita planta/ o plano é baseado/ no medo/ e na ignorância/ alheia”, ataca a banda, enquanto manda ver, em seguida, medley “Ex-Quadrilha da Fumaça/ Fazendo Sua Cabeça”. A nova versão dessas músicas explode num refrão metálico, com seções de sopro e de percussão.

Cada faixa e participação trazem um pedaço dessa história, e ouvir isso ao vivo, com a energia do público, é lembrar o motivo pelo qual começamos. São 30 anos e a chama não se apagou” Marcelo D2, vocalista

Mesmo que não seja maconheiro (como ressaltou D2 em coletiva antes do show), o rapper Criolo quase é integrante do Planet. Ele celebra “a força da canção” contra o retrocesso em “Distopia”. Logo depois, “Taca Fogo RMX” traz o trapper Major RD e, em “Fim do Fim”, o músico Rodrigo de Lima, da banda Dead Fish, reafirma ligação do Planet Hemp com punk.

Ativismo

“Legalize Já”, por sua vez, é clássico irrefutável. A inclusão dessa canção no disco ao vivo reforça a ideia de celebração e luta. Em Stab”, DJ Zegon se junta à banda e, em “Nunca Tenha Medo RMX”, os convidados são Seu Jorge e Emicida. Enquanto Jorge vocaliza o refrão com a voz grave, Emicida solta rimas inéditas — em homenagem aos mestres do Rio.

Inclusive, Jorge lembra dos tempos em que tocou percussão na cozinha rítmica do Planet, durante a turnê do disco “O Sagaz Homem Fumaça”, lançado em 2000. Ainda mostra seus dotes instrumentais na flauta transversa, em groove que faz a quadrilha da fumaça decolar.

Camarada de longa data, o cantor Black Alien volta a dividir palco com Planet para quatro faixas: “Queimando Tudo”, “Deisdazseis”, “Zerovinteum” e “Contexto”. Em “Quem Tem Seda”, o carismático BNegão convoca público a acender seus isqueiros. “A gente vê a quantidade de maconheiro presente em quem não vem de celular”, constata rapper.

Mantendo-se intenso e pesado, “Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça” reforça ativismo pró-cannabis com impactante “Puxa Fumo”. O hip hop rouba cena em “Onda Forte”, bateu forte pacas, e aí a banda celebra resistência contra “os idiotas e toda a sua ganância”. Com BaianaSystem, rola dueto em “Dig Dig Dig (Hempa) / Duas Cidades”.

A roda punk se forma na violentíssima “Hip Hop Rio”, que tem provocado catarse sem igual em shows, com um pequeno palco erguido entre a plateia, os dois vocalistas ali, e som estratosférico na caixa. “Salve Kalunga” traz o líder do Suicidal Tendencies, “Mike Muir”, e As Mercenárias se juntam a D2 e BNegão para a fundamental “Me Perco Nesse Tempo”.

Parceira do Planet desde os tempos de Inkoma, Pitty reedita parceria apresentada no último Rock in Rio com “Admirável Chip Novo” — antes disso, todavia, “A Culpa é de Quem?”. Já “Samba Makossa” ressoa homenagem-manifesto a Chico Science e Nação Zumbi. “Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça” termina com “Mantenha o Respeito”.

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