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"João Violeiro", de Ivanor Florêncio
O romance "João Violeiro", de Ivanor Florêncio, desafia as ideias contemporâneas sobre o tempo, a vida e a conexão com o mundo ao nosso redor. Enquanto a sociedade caminha cada vez mais para a virtualização das relações e a efemeridade das interações, o personagem Joãojosé, também conhecido como "João Violeiro", trilha um caminho inverso, buscando na simplicidade e nas relações humanas profundas a essência da vida.
Joãojosé, descrito como "economista, tocador de viola e viajante da vida", reflete valores que parecem cada vez mais escassos na sociedade atual. A obra levanta questões filosóficas sobre a vida e os relacionamentos, propondo uma vida construída como uma obra de arte, em que o tempo, longe de deteriorar, apenas aumenta seu valor e beleza. Essa perspectiva é contrastada com a realidade de um mundo onde as relações são cada vez mais líquidas e onde a busca pelo lucro e pela acumulação de bens materiais prevalece sobre a coletividade e o bem-estar comum.
O personagem, ao longo do romance, é mostrado em sua relação integral com a natureza, como alguém que vê a Terra e o ambiente natural como parte essencial de sua existência. Essa visão é expressa através de passagens que ilustram sua conexão com o mundo natural: “(…) ele era parte da natureza, como o leito de um rio recebe as águas de todas as nascentes, as limpas e as cristalinas, mas que também absorvia as que vinham sujas, de uma brava correnteza e levava dele um pedaço de barranco”. Essa relação com o meio ambiente é um contraponto ao estilo de vida contemporâneo, onde a exploração da natureza para o benefício imediato se tornou a norma.
O autor também se utiliza do romance para abordar a questão da educação, comparando a educação disciplinadora e limitadora à educação que liberta e fomenta o desenvolvimento pleno do ser humano. João Violeiro representa essa última, defendendo uma vida que vai além das obrigações rotineiras e busca inspiração em aspectos simples e muitas vezes negligenciados da vida, como o nascer e o pôr do sol, ou a estrela Dalva, que serve de inspiração musical para o personagem.
Florêncio questiona a sociedade ao mostrar que pessoas como Joãojosé, que valorizam a sinceridade e o amor, muitas vezes são vistas como estranhas ou até mesmo ameaçadoras em um mundo cada vez mais dependente da tecnologia e do consumo. O dilema do romance é claro: quem desafia as normas estabelecidas, que valoriza a simplicidade e o contato humano verdadeiro, pode ser visto como um obstáculo para a maioria que vive presa ao virtual e à superficialidade.
Ao criar João Violeiro, o autor, buscou trazer à tona figuras que admira e que, em suas palavras, se destacam por não se conformarem com o padrão estabelecido. "Eu sempre quis parir uma personagem que se parecia com pessoas que amo e admiro, coisa difícil demais, pois todos ficavam aquém do que eu garimpava", afirma o autor. A ideia do personagem surgiu em um sonho, segundo ele, e desde então, João Violeiro tomou forma lentamente, como a própria vida simples e profunda que ele defende.
O lançamento do livro "João Violeiro" será realizado hoje, quarta-feira, 4, no Instituto Ivanor Florêncio, localizado na Rua 603, n° 67, Setor São José. O evento reunirá diversos artistas plásticos, poetas e músicos, refletindo a diversidade cultural que o autor tanto aprecia. Entre os participantes estão Tereza Virgínia, Nádia Tin, Gutto Lemes, Nonatto Coelho, além de apresentações musicais de Branco Seixas e Junior Araujo.
Para Ivanor, o evento proporcionará ao público a oportunidade de refletir sobre o papel da arte e da literatura na construção de uma vida mais significativa e conectada aos valores essenciais. "Espero que meus leitores gostem", conclui Florêncio, ciente de que sua obra desafia, mas também inspira aqueles que buscam mais do que a superficialidade oferecida pela modernidade.
Segundo o autor sua obra não é apenas um romance sobre um personagem fictício, mas um convite a todos para reconsiderar a forma como vivemos e nos relacionamos com o mundo ao nosso redor. Em tempos onde o real e o virtual se misturam, "João Violeiro" surge como um farol, guiando-nos de volta aos valores que, segundo o autor, realmente importam.
