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Nando Reis nada contra maré da indústria fonográfica com disco quádruplo

Vendas já começam em seu site. Lançamento dos elepês individuais também será feito de forma progressiva

Nando Reis, cantor e compositor - Foto: Livia Rodrigues/ Divulgação Nando Reis, cantor e compositor - Foto: Livia Rodrigues/ Divulgação

Ah, claro, tudo flui, tudo jamais está barrado — e fluiremos numa boa, suave, eu e você, ainda que não existisse, como existe, a melodia, o ritmo, a música. Escrevo ouvindo Nando Reis: o som alto, ritmado como lembranças remexidas na memória, não te pertence.

Difícil não levar em consideração brilho artístico de Nando no ambicioso projeto fonográfico quádruplo “Uma Estrela Revelará o Segredo”, cujo box começa a ser vendido amanhã no site do artista. O lançamento dos elepês individuais também será feito de forma progressiva.

Tem início incomum, o projeto. “Uma”, o primeiro disco dos quatro, está disponível nas plataformas. Não inteiro, porém. Só cinco faixas, o que lhe confere formato de EP. As músicas “Terra em flor”, “Des-mente”, “Inverso” e “Em si, Tais e Quais” estão bloqueadas.

Essa obra marca retorno do artista à cena discográfica após hiato de oito anos — o último álbum foi “Jardim-Pomar”, de 2016. “Uma”, “Estrela” (estreia 2 de agosto) e “Misteriosa” (9 de agosto) — com o bônus “Revelará o Segredo”, disponível apenas como extra de um box especial em vinil — representam algo contrário do que se vê na indústria fonográfica.

Questionado em coletiva de imprensa sobre a viabilidade de obra extensa numa era em que o consumo de música se dá de forma fragmentada, Nando deu uma resposta inteligente. Declarou ser importante lembrar de que a vida não pode resumir-se apenas às audições superficiais do streaming nem aos deliverys. “Pega o carro, vai ao cinema”, aconselha.

Com bateria bem encaixada, a guitarra murmura em “A Chave” comentários líricos. Costura a voz de Nando: “seu gosto, seu rosto/ agosto, setembro/ me lembro, tremendo/ incêndio no jeans”. Na sequência, “A Tulha” evoca sonoridade à la Pearl Jam, numa vocalização de épico autobiográfico na qual rememora “com nostalgia e tristeza” lembranças de sua infância.

A próxima canção, “Azul Febril”, tem andamento lento, mas chega ao clímax lá na frente. Será petardo certeiro ao vivo, do tipo que faz plateia tirar celular do bolso para filmar, com olhos marejados e pele arrepiada. Ora, quem não se emociona com isto? “O amor passeia, até nos encontrar/ numa terça-feira/ tão cinza, feia/ tudo é beleza, se você está/ aqui.”

No rock “Coragem é Poder Mostrar”, a metaleira gruda em nossos ouvidos fraseados elegantes. “Não há por que fingir/ por que se envergonhar/ não há por que mentir/ coragem é poder mostrar”, vocaliza Nando, que demonstra, em “Dois Réveillons”, o porquê precisa ser incluído dentre maiores cancioneiros românticos da música popular brasileira.

O mundo mudou e eu, obviamente, passei a ter um ritmo de lançamentos distinto do que estava acostumado, obedecendo ao mercado. Mas, no fundo, eu sou compositor de grande produtividade Nando Reis, cantor e compositor

Nando surgiu nos anos 80 como um dos integrantes dos Titãs, gravando os clássicos elepês “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, “Go Back”, “Õ Blésq Blom”, “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora” e “Titanomaquia”. Saiu da banda após a gravação do CD “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”, em 2001.

“O mundo mudou e eu, obviamente, passei a ter um ritmo de lançamentos distinto do que estava acostumado, obedecendo ao mercado. Mas, no fundo, eu sou compositor de grande produtividade. Hoje, com 61 anos, me sinto muito melhor e mais lúcido. Estou sóbrio, ativo e disposto”, diz o artista, que irá meter o pé na estrada entre setembro e dezembro.

Ligado à quantidade, à série e ao agrupamento de itens semelhantes, o músico afirma que usa esse raciocínio não apenas para música, mas também para sua própria carreira. Se fazer um disco é como organizar plantas, em que aglutina diferentes espécies, nada mais adequado do que rodar Brasil afora. Já são 24 datas confirmadas de Norte a Sul.


		Nando Reis nada contra maré da indústria fonográfica com disco quádruplo
Nando confirma turnê em Goiânia (leia ao final da matéria). Foto: Lorena Dini/ Divulgação

Turnê

Goiânia, claro, está no itinerário da turnê: Teatro da PUC, 15 de dezembro, a partir das 19h. Dois dias antes, todavia, Nando faz show no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Há ansiedade para vermos como as canções serão performadas no palco.

Em entrevista coletiva, tranquiliza os fãs. “Não vou fazer show só com música inédita, porque não sou louco. Quero que as pessoas saiam satisfeitas. Vou tentar dosar. Deve ter uns 60% de músicas novas. Vai ser um show novo, não vou fazer só o ‘Nando hits’.”

Produzido por Barrett Martin, com co-produção do baixista Felipe Cambraia, produção executiva assinada por Diogo Damascena e mixagem de Jack Endino, os discos foram gravados por Nando na voz e violão. Barrett toca bateria, Cambraia grooveia no baixo e Walter Villaça desenha acordes e solos no braço da guitarra, bem como Peter Buck.


		Nando Reis nada contra maré da indústria fonográfica com disco quádruplo
Identidade visual do projeto. Foto: Arquivo NR (foto) | Zoe Passos (Identidade Visual, Design Gráfico) | Daniel Taglieri (Design Gráfico)

O tecladista Alex Veley adiciona uma pitada de soul music. Ainda há no projeto outros instrumentistas de peso, caso do guitarrista Mike McCready e do baterista Matt Cameron — ambos do Pearl Jam. Duff McKagan, baixista do Guns N’ Roses, também participa do trabalho. Ex-Nirvana, Krist Novoselic empresta à obra seu talento nas cordas graves.

Conhecido pelo trabalho na banda estadunidense Screaming Trees (descrita como pré-Grunge), Barrett não tem dúvida: “Uma Estrela Misteriosa” é obra-prima, seja em termos de letra, composição, arranjo e experimentação. No texto apresentação das obras, observa que são 30 músicas transitando por gêneros como rock, soul, rhythm and blues e até samba. “Ironicamente, as origens desse álbum gigante são bastante humildes”, afirma.

O projeto nasceu de maneira despretensiosa. Nando e Os Infernais, banda que o acompanha desde os anos 2000, se juntaram no estúdio Da Pá Virada, em São Paulo. Ali nasceram duas músicas inéditas. Daí duas viraram dez. E dez se tornaram 26. “Se me perguntam qual é a minha profissão, eu respondo ‘sou um fazedor de discos’”, assume Nando Reis.

Uma Estrela Misteriosa

Teatro da PUC

Av. Engler, 507

Jardim Mariliza

12 de novembro

A partir das 19h

R$ 100 (meia-entrada)

Pelo icones.com.br

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