Cria-se expectativa quando Marisa Monte anuncia show. De fato, a primeira turnê solo da cantora em dez anos já é por si só suficiente para justificar toda essa ansiedade. A estética encanta. Arrepia-se a pele. Voz percorrendo o tubo auditivo. Gestos como linguagem. Palavras dançando na partitura corporal. Aparatos visuais e sonoros daquele que é o melhor show da música brasileira na atualidade. Só poderia ser coisa de sensibilidade marisística.
Esse encontro comovente pelo mundo da expressividade artística tem hora marcada: sábado, 16, a partir das 22h, na área anexa ao Garden Flamboyant, localizada no Flamboyant Shopping, Jardim Goiás. Marisa traz à Capital goiana o aclamado espetáculo “Portas”, a bordo do qual se apresenta há quase dois anos em cidades ao redor do mundo - para o mês que vem, por exemplo, a cantora está com sete datas marcadas nos Estados Unidos.
O repertório terá pelo menos 11 músicas de “Portas”, último trabalho da artista gravado na pandemia, que traz bases feitas em estúdio no Rio de Janeiro. Houve também sessões remotas em Lisboa, Los Angeles, Madri, Barcelona e Nova York. Além das canções do novo álbum, o repertório do show destaca momentos importantes da carreira de Marisa. Ou seja, é quase certo que a cantora irá interpretar “Já Sei Namorar” (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) e “Eu Sei” (Marisa Monte), dentre as 32 tocadas de praxe.
“Portas”, o disco, é um grande produto criativo para a era do Spotify. São 16 canções compostas em parcerias com músicos de primeira, como o baixista Dadi, ex-A Cor do Som, Barão Vermelho e Caetano Veloso. O músico assina, em parceria com Marisa e Arnaldo Antunes, a faixa que dá nome aos projetos - show e álbum. Há ainda um belíssimo samba carnavalesco portelense (escola favorita da cantora) chamado “Elegante Amanhecer”.
Uma música de amor composta com Marcelo Camelo batizada “Você Não Liga” dá as caras no repertório. E também parcerias com Chico Brown, filho de Carlinhos, parceiro desde os tempos de Tribalistas. “Portas” precisa ser compreendido como o que é: uma obra de arte solar, de cores e letras otimistas. Tons de esperança, ainda que nos desassossegos da vida. Faz todo sentido cantar a suavidade daquele “Infinito Particular” (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) e declarar texturas do “Ainda Lembro” (Marisa e Nando Reis).
A começar pela direção de arte conduzida por Batman Zavareze nas imagens desenvolvidas pela artista visual Lúcia Koch, “Portas” põe Marisa Monte para emergir ao centro do palco assim que soam os acordes da introdução. Depois, a faixa-título. A banda está afiadíssima, com Davi Moraes emprestando seu talento aos temas, melodias e riffs executados na guitarra. Já Dadi, bem, Dadi é uma lenda, cujas linhas de baixo frequentam a cozinha, esta comandada pelo percussionista Pretinho da Serrinha e baterista Pupillo.
Há um fabuloso trio de metais - formado aqui por trombonista Antonio Neves, trompetista Eduardo Santanna e saxofonista Lessa, instrumentistas que gravaram o disco de estúdio. Os músicos reatualizam arranjos para hits conhecidos de Marisa, como “Velha Infância” (Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Pedro Baby e Davi Moraes).
Aos 56 anos, Marisa se lançou como intérprete no disco “MM”, gravado em 1989. Mostrou-se, pouco a pouco, compositora das melhores - “Mais”, de 91; “Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão”, de 94; “Barulhinho Bom”, de 96; “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, de 2000 - e produtora - “Omelete Man”, de Carlinhos Brown, lançado em 89; “Tudo Azul”, da Velha Guarda da Portela, 2000; e “Argemiro Patrocínio”, 2002. A seguir, consolidou a parceria com Arnaldo e Carlinhos, num único disco - “Tribalistas”, de 2002.
Marisa Monte demonstra, desde muito cedo, interesse pela música. Ainda criança, fez aulas de piano e bateria. Amava as divas Maria Callas e Billie Holiday, assim como Carmen Miranda, cuja carreira chegou até aos Estados Unidos. Ao longo da trajetória musical, Marisa mostrou que transita por diferentes estilos: rock, soul, reggae e jazz. Estudou canto na Itália, o que certamente explica o fato de impostar bem seu canto situado na região do soprano. E, além de tudo, é capaz de atingir graves intensos e agudos operísticos.
Dos anos 80 até hoje, Marisa traz consigo um estilo próprio de administrar a carreira e relacionar-se, hoje, com esse tal universo das redes sociais – ela, por exemplo, fez poucas postagens para seus mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. “Preciso mostrar minha casa para me comunicar com o público? Vai melhorar o conceito que as pessoas têm de mim?”, já questionava-se Marisa, lá nos anos 2000, numa entrevista à “Rolling Stone”.
É de se imaginar, portanto, as manobras que fez para preservar sua intimidade intacta ao longo destes anos. Para Marisa, ser famoso é uma coisa grave, uma espécie de narcisismo maluco. E tudo no universo musical da cantora é interessante: o refinamento nos arranjos, a voz inconfundível, a poesia que oferece como alento numa época em que a grosseria e a truculência, infelizmente, reinam por aí. A compra dos ingressos pode ser feita pelo site alphatickets.com.br. Os bilhetes saem a partir de R$ 300.
Turnê Portas
Sábado, 16, às 22h
Área anexa ao Garden Flamboyant
Av. Dep. Jamel Cecílio, 3300, Jardim Goiás, Goiânia
Ingressos pelo site ou app alphatickets.com.br