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Lô Borges consagra parceria com fã brasiliense em disco de inéditas

Novo trabalho acaba de ser publicado nas plataformas de streaming. Obra corrobora tese segundo a qual essa é a fase mais produtiva do artista

Incansável: artista tem se mostrado em ótima forma nos últimos cinco anos - Foto: Flavio Charchar/ Divulgação Incansável: artista tem se mostrado em ótima forma nos últimos cinco anos - Foto: Flavio Charchar/ Divulgação

Lô Borges, 72, é do tipo que nos emociona. Letra, melodia, mas principalmente acordes. Como é fascinante escutá-lo. Difícil pra caramba sacá-lo do Spotify. Som te vicia no ato.

Isto aqui virou clássico: Lô Borges lança novo disco. Dessa vez, a notícia é “Tobogã”, ao que mantém-se fiel à ideia de aglutinar canções uma vez por ano em obra fonográfica. Profícuo e ágil, o compositor revela existência de vasto material inédito — a ser publicado até 2027.

Daí, pensemos, é por isso que esse compositor busca novos projetos, novas parcerias e novos sons, correto? Óbvio, o acelerado ritmo criativo lhe assegura feroz produtividade desde 2019. “Compor, fazer música, é uma coisa imperiosa para mim. É como beber água”, explica.

Sexto de onze irmãos da família Borges, Lô apaixonou-se cedo pela sofisticação harmônica dos Beatles. Não satisfeito, trouxe-a ao contexto mineiro. No entanto, precoce, montou os primeiros acordes no violão assim que, adivinhe, ouvira a inesquecível síncope de João Gilberto — instrumentista puro samba nas mãos e hábil na fusão desse estilo com jazz.

Nos anos 70, o amigo Milton Nascimento convenceu matriarca dos Borges a deixar que o filho adolescente se mudasse para o Rio de Janeiro. Novinho, menos de 20 anos, participou de oito das vinte e uma faixas gravadas no elepê “Clube da Esquina”, lançado em 1972.

Quatro canções, lindíssimas, eternizaram-se: “Tudo que Você Podia Ser” (Márcio Borges e Lô Borges), “O Trem Azul” (Lô Borges e Ronaldo Bastos), “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo” (Márcio Borges e Lô Borges) e “Paisagem na Janela” (Lô Borges e Fernando Brant). Simplesmente serão apreciadas pelas futuras gerações com mesmo ardor que o nosso.

O artista deu continuidade à produção discográfica com o elepê “Lô Borges”, também de 72, que se tornara conhecido pelo apelido “Disco do Tênis”. Possui 15 composições, a obra. As músicas têm melodias tristes, embora o rock crie a atmosfera — assim como o cancioneiro popular brasileiro e o regionalismo mineiro emoldurados numa tela sonora barroco-jazzy.

“Um dia, falei: vamos inverter esse negócio? Vou mandar uma música para você fazer a letra. Vamos ver se conseguimos nos tornar parceiros” Lô Borges, cantor e compositor

“Tobogã”, o disco recém-lançado, abre com dueto homônimo de Lô Borges e Fernanda Takai, do Pato Fu. Tudo está nos versos: John Lennon, Yoko Ono, existência, beleza. Tal qual expressa a letra, são só as coisas mais simples da vida. “A vida é um tobogã/ o tempo é uma abstração da mente/ e eu quero a sua bem sã”, cicia Takai, encantadora, na primeira música.

Encantadora, por assim dizer, foi a maneira como se deu o processo criativo do disco. Amiga com quem corresponde-se por email há duas décadas, a poeta e médica brasiliense Manuela Costa enviou ao ídolo Lô Borges um poema, que o deixou impressionado pela criatividade discursiva apresentada. E transcorreu-se o imaginado: o músico teve uma ideia.

“Um dia, falei: vamos inverter esse negócio? Vou mandar uma música para você fazer a letra. Vamos ver se conseguimos nos tornar parceiros”, lembra Lô. A provocação, calculada, funcionou: canções surgiam uma atrás da outra. Existe ainda memória afetiva, pois “Tobogã” se chamava um livro publicado pelo pai do músico, Salomão Borges, em 1987.

Arranjo pronto, bases gravadas, música feita, Lô entra numa epifania artística. Falta algo, encafifou-se. “Foi como se eu escutasse a voz da Fernanda Takai. E aí a convidei para participar e a música ficou completa”, diz Lô, que nem nos anos 70 emendava um disco no outro — entre “Disco do Tênis” e “Via-Láctea”, por exemplo, registra-se hiato de sete anos.

Takai divide os microfones com Lô ainda no rock “Amor Real”. Com violão encorpado, beatlemaníaco total, a letra fala que “na vida a volta dos astros nos dá avisos”. “Crianças param as horas/ com seus ouvidos/ brincar de bola é trabalho/ não é desvio”, canta a vocalista do Pato Fu, para explodir “amor real e destemido/ escreveu o seu destino”.

Repertório

Produzido por Lô, o disco traz doze canções. O guitarrista Henrique Matheus adiciona brilho melódico às músicas, como se ouve em “Vou Ventando Pra Você” — acordes as fazem vibrar entre sussurros expressados na combinação palhetada-escala. Destaca-se ainda a referência ao hino do retorno “Get Back”, gravado pelos Beatles no disco “Let It Be”, de 70.

Se Henrique louva a guitarra do mestre George Harrison, com seus acordes a serviço da música e seu ritmo unindo os outros músicos ao redor de si, o baixista Thiago Correa (lírico e melódico) se entende muito bem na cozinha com Robinson Matos, baterista de baqueteadas econômicas. Essa sintonia faz toda diferença na psicodélica “Minas e Marte”.


		Lô Borges consagra parceria com fã brasiliense em disco de inéditas
Lô Borges aparece jovem na capa de 'Tobogã'. Foto: Cafi com arte de Rodrigo Brasil

Lô tem dito que o novo disco de inéditas é beatlemaníaco, mas une duas gerações: a sua, que se apaixonou por Lennon, McCartney, Harrison e Starr nos anos 60, e a da parceira Manuela, fã dos ingleses desde a década de 90. Manuela, inclusive, conheceu o ídolo Lô Borges nos anos 2000 após apanhar ônibus no Edifício Levy, em BH, e desembarcar em Santa Teresa, na mesma cidade.

Ali, foi recebida por dona Maricota, matriarca da família Borges. Assim que percebera o piano utilizado para compor “Para Lennon e McCartney”, Manuela ficou emocionada. Desde então, trocava email com Lô, o que torna canções como “Esqueça Tudo”, “Presente”, “Amor Real”, “Teia”, “Colar de Cobre” e “Poema Secreto” ainda mais fascinantes.

Delicado e sensível, “Tobogã” nasceu sem encontro físico entre os parceiros, já que o ex-Clube da Esquina mora em Belo Horizonte e Manuela, em Brasília. Lô Borges está em forma, como é possível ouvir no rock furioso “Até a Terra Balança” e na balada “Na Curva de um Rio” — ambas fecham disco. Estamos profundamente comovidos. Vamos curtir.

TOBOGÃ

Lô Borges

Faixas: 12

Gravadora: Deckdisc

Gênero: Rock, MPB

Disponível no Spotify

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