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Do Bronx ao pódio

Breaking se desmarginaliza ao tornar-se modalidade nos Jogos Olímpicos de Paris. Disputa por medalha começa nesta sexta, 9

Imagem ilustrativa da imagem Do Bronx ao pódio

O breaking conquista o mundo e quebra barreiras. Com raízes nas festas da periferia de Nova York, essa dança de movimentos acrobáticos e rítmicos transformou-se em um símbolo da cultura hip-hop e alcançou o status olímpico. Esse feito marca um ponto de virada na história, refletindo seu impacto global e o reconhecimento de sua importância cultural.

A inclusão do breaking nas Olimpíadas é uma vitória para a comunidade hip-hop. Esse reconhecimento é o resultado de décadas de perseverança e dedicação de dançarinos ao redor do mundo. Marginalizado num passado não tão distante, tornou-se modalidade olímpica, que estreia nos Jogos Olímpicos nesta sexta, 9. O Brasil não tem representante.


		Do Bronx ao pódio
Rafael Guarato - professor na UFG, historiador e dançarino de break. arquivo pessoal


Rafael Guarato, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), fala ao Diário da Manhã sobre a importância do breaking e do hip-hop na sociedade. "Ver o breaking nas Olimpíadas é um marco importante. É uma oportunidade incrível para mostrar ao mundo a beleza e a complexidade dessa dança", diz Guarato, enfatizando o impacto global dessa conquista.

Historiador e dançarino de break, Rafael compartilha sua jornada pessoal e profissional. Ele destaca a evolução da dança de rua e os desafios enfrentados para obter reconhecimento. “As práticas eram mais misturadas. As técnicas que hoje chamamos de danças urbanas eram menos segmentadas”, explica o pesquisador, que começou a dançar aos nove anos.

O estudioso comenta ainda que alguns têm criticado inclusão do estilo nos Jogos Olímpicos, afirmando que o break é uma manifestação cultural e não deveria se transformar em esporte. Ele afirma, no entanto, que pode ser tanto esporte quanto cultura, mas adverte que a entrada em espaços hegemônicos talvez leve a um processo de embranquecimento da dança.


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Rock steady Crew e Dynamic Rockers anos 80. — Foto reprodução


O movimento hip-hop começou nos anos 1970, em meio às dificuldades sociais e econômicas enfrentadas pelos jovens afro-americanos e latino-americanos. Buscando uma forma de expressão, esses grupos criaram um movimento que se espalharia rapidamente pelos Estados Unidos e, posteriormente, pelo mundo, influenciando a música, a moda, a arte e a linguagem. Hoje em dia, tem conquistado um público cada vez maior, ultrapassando as fronteiras das comunidades onde nasceu e transformando a cultura popular globalmente.

O breaking, uma das quatro principais vertentes do hip-hop — ao lado do rap (música), grafite (arte visual) e DJing (musicalidade) —, surgiu como uma dança de rua, uma forma de liberar a energia e a criatividade, além de ser uma necessidade de expressão e resistência. Os primeiros B-Boys e B-Girls, como eram chamados os praticantes, utilizavam os espaços públicos como palcos, desafiando-se mutuamente em batalhas de dança.


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— Foto reprodução

A chegada do hip-hop ao Brasil nos anos 1980 foi marcada pela adaptação da cultura aos costumes locais. A dança, em especial, se popularizou nas periferias, onde jovens encontravam no breaking uma forma de se expressar e de construir uma identidade. Atualmente, o Brasil possui uma das cenas de breaking mais vibrantes do mundo.

Nos anos 1980, o hip-hop começou a ganhar força no Brasil, especialmente nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. O movimento foi rapidamente adotado por jovens das periferias, que encontraram uma forma de expressão e uma ferramenta de resistência.

"Quando o hip-hop chegou ao Brasil, foi como uma explosão. Os jovens se identificaram imediatamente com as mensagens de resistência e empoderamento", conta Ben-Hur, que é professor e coreógrafo do Basileu França. "O breaking, em particular, se tornou uma forma de arte muito popular, apesar de todo o preconceito que enfrentamos."


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Grupo Dança de Rua Basileu França (DRBF Crew). - Foto acervo pessoal

Desde o início, diz, a cultura hip-hop enfrentou grande resistência e preconceito. Associada à criminalidade e à rebeldia, a dança breaking e outras formas de expressão do hip-hop eram muitas vezes marginalizadas. No entanto, a comunidade perseverou, transformando essa expressão cultural em uma poderosa ferramenta de resistência e mudança social.

Tem impacto social profundo. Para muitos jovens, especialmente nas periferias, é uma alternativa positiva e uma forma de escapar de ambientes adversos. "Assim como outros esportes que tiram jovens de lugares ruins, a dança também tem esse papel. Tem aberto portas e feito os jovens olharem o hip hop de uma forma diferente", reforça Ben-Hur.


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Grupo Dança de Rua Basileu França (DRBF Crew). — Foto reprodução


Realidade goiana

De fato, o breaking não apenas sobreviveu, mas prosperou, chegando ao ponto de integrar o programa das Olimpíadas. Esta inclusão simboliza vitória. "O breaking nas Olimpíadas é um reconhecimento do talento e da criatividade dos dançarinos de hip-hop. É oportunidade incrível para mostrar ao mundo a beleza e a complexidade dessa dança", diz Ben-Hur.

Para muitos dançarinos, a preparação para competições de breaking é intensa e rigorosa. Nos EUA, Ben-Hur descreve à reportagem do DM a rotina de seu grupo em Goiânia. "Os meninos treinam cerca de quatro horas todos os dias. A montagem da coreografia é um trabalho criativo que combina a música, a proposta e as habilidades dos bailarinos."


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Grupo Dança de Rua Basileu França (DRBF Crew). - Foto acervo pessoal

O grupo de Ben-Hur se prepara para competir no Hip Hop International, em Phoenix, Arizona. "Estamos treinando intensamente para representar o Brasil e mostrar o nosso talento no cenário global. É uma grande honra participar de um evento tão importante," explica Ben-Hur, que é uma figura importante do hip-hop goiano.

"Participamos de uma seletiva em Santos (SP), em setembro passado, e fomos selecionados para representar o país no Hip Hop International em Phoenix. Estaremos competindo contra 55 países. Nós, do Basileu, representaremos o Centro-Oeste com uma equipe de nove integrantes na categoria 'Adult Division'”, arremata o dançarino, orgulhoso.

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