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A Sutileza do Abuso

Reconhecer sinais de violência é o primeiro passo para sair de um relacionamento abusivo.

Imagem ilustrativa da imagem A Sutileza do Abuso

Me impressiona a quantidade de pessoas, principalmente mulheres, em relacionamentos abusivos.

Eu que recebo muitas dessas mulheres, todos os dias no consultório, estou cada dia mais atenta aos sinais de abuso, tantas vezes sutis, aos quais elas estão expostas.

Somos frutos de uma cultura machista, condescendente com essas violências, que apesar de sutis, trazem enormes prejuízos emocionais para as mulheres, podendo culminar em prejuízos físicos.

A violência, seja ela física ou psicológica, deveria sempre ser algo inadmissível. Todo ser humano tem direito à preservação de sua saúde física e mental, resguardado pela nossa constituição e pelos Direitos Universais.

Mas como essa violência se expressa na prática?

Os problemas já começam nos primeiros relacionamentos na adolescência. Um parceiro que afasta o outro da convivência com a família e amigos, não é legal. Exerce domínio e controle exagerado, ciúme excessivo, doentio, possessividade. E quando o outro percebe já perdeu sua identidade e nem sabe mais do que gosta.

Já recebi certa vez uma mãe que trazia a filha adolescente por volta dos seus 14-15 anos e o namoradinho disse a ela : “Se você não transar comigo, eu vou me matar”. A sorte é que essa menina tinha um bom relacionamento com a mãe e conseguiu contar o que estava acontecendo. E a mãe veio me pedir ajuda para resolver a situação. Violência psicológica e coerção para que a mesma se submetesse a um sexo que não seria de todo consentido.

Há ainda adolescentes que pedem “prova de amor” para uma num dia e para a amiga dela no outro. Que prova de amor é essa?

E será que amor e sexo andam sempre juntos? Se andam ou não nem é o mais importante nessas situações abusivas. Precisamos falar sobre isso com nossos adolescentes e capacitá-los para perceberem essas situações e se defenderem.

Dependência psicológica leva muita gente a se submeter a relacionamentos abusivos e até achar que isso é normal. E a vivência de tais relacionamentos vão passando de geração em geração. Indivíduos que presenciaram sua mãe nesse modelo de relacionamento crescem achando que isso é normal. Os filhos do sexo masculino podem se tornarem companheiros abusivos na vida adulta e as filhas do sexo feminino serem abusadas e ainda acharem que merecem passarem por isso, o que é um absurdo.

O controle financeiro também pode ser uma forma sutil de violência. Mulheres que muitas vezes são podadas de seguirem uma carreira e sempre com a justificativa que é melhor elas ficarem em casa cuidando dos filhos. Nada contra uma mãe dedicar o seu tempo no cuidado da família, desde que isso seja uma escolha e não uma imposição.

Segundo a Lei 11.340, conhecida como “Lei Maria da Penha”, o abuso psicológico pode ser caracterizado por qualquer atitude que configure: ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento (proibir de estudar, viajar ou ter contato com amigos e familiares), vigilância constante, perseguição, insultos, chantagem, exploração, limitação do direito de ir e vir, ridicularização, tirar a liberdade de crença e distorção/omissão de fatos para deixar a mulher confusa ou em dúvida sobre sua memória e até mesmo sobre sua própria sanidade mental.

Conheça alguns desses tipos de violência psicológica e fique atenta(o):

* Gaslighting: se refere a uma forma de manipulação psicológica em que uma pessoa faz outra duvidar de sua própria sanidade, memória ou percepção da realidade. A mulher pode se sentir confusa e duvidar do que sabe, do que está vendo e até das suas próprias percepções. O termo vem do filme "Gaslight" de 1944, onde um marido manipula sua esposa para fazê-la pensar que está perdendo a razão. Essa técnica é muito comum em relacionamentos abusivos e a vítima é levada a questionar seus sentimentos e experiências, se sentindo sempre desvalorizada.

* Mansplaining: Quando um homem explica para uma mulher algo que é óbvio para ela. Um exemplo seria uma homem que não é da área jurídica explicando sobre leis e processos para uma advogada, como se ela não soubesse sobre o tema, desvalorizando o conhecimento dela e minando sua confiança e autoestima. No Brasil, esses homens são conhecidos como “Macho Palestrinha”. Esse comportamento reflete uma dinâmica de poder desigual e pode ser visto como uma forma de desconsideração ou desvalorização das contribuições femininas. A prática é criticada por perpetuar estereótipos de gênero e minar a confiança das mulheres em ambientes sociais e profissionais.

* Manterrupting: Quando um homem interrompe a fala de uma mulher sem deixar que a mesma conclua o que está dizendo, podendo atrapalhar a sua linha de raciocínio. Essa prática é vista como uma forma de desrespeito e reflete dinâmicas de poder desigual nos diálogos. Além de silenciar a voz feminina, o manterrupting pode contribuir para a marginalização das ideias das mulheres em ambientes profissionais e sociais, dificultando a promoção da igualdade de gênero. Acontece com mais frequência em reuniões de trabalho, de amigos, invalidando ou desconsiderando a fala da mulher.

* Bropriating: Se refere à prática de homens que se apropriam ou reivindicam ideias, contribuições ou experiências de mulheres, geralmente sem reconhecimento ou crédito adequado. Esse fenômeno ocorre frequentemente em ambientes profissionais e criativos, onde homens podem ganhar visibilidade e prestígio por ideias que, na verdade, foram inicialmente propostas ou desenvolvidas por mulheres. O bropriating é uma forma de minimizar o trabalho e as realizações femininas, perpetuando a desigualdade de gênero e dificultando o avanço das mulheres em diversas áreas.

Além das várias formas de violência psicológica, outras violências também podem estar presentes nos relacionamentos, como a violência física, sexual, patrimonial e simbólica.

Nem sempre é fácil se libertar de um relacionamento abusivo. Por isso, o primeiro passo é tomar consciência de que você está num relacionamento abusivo e pedir ajuda. O ciclo da violência é extremamente envolvente e o abusador confunde a vítima, inclusive gratificando, de alguma forma essa vítima.

O 180 é um número específico para denunciar violências contra a mulher.

Para falar comigo, envie mensagem no @drajoicelima

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