Se hoje fosse seu último dia, será que você teria tanta pressa para chegar ao trabalho? Ou apreciaria o caminho? Será que você interromperia rápido a conversa ao telefone com aquela pessoa querida? Ou esticaria um pouco mais para apreciar o som e o carinho dessa voz?
E os rancores no coração, de coisas que já são passado, ainda estariam lá? Ou você já teria perdoado e abraçado aquela pessoa que te maltratou ou magoou? Já teria pedido perdão aos que você também magoou?
Me lembro de um dia em que estava fazendo uma cesariana e da janela do centro cirúrgico era possível vislumbrar a bela vista de um dos parques da cidade. Falei para a médica que me auxiliava: “Quando terminarmos aqui, vamos lá comer aquela tapioca gostosa vendida nos arredores do parque?” E ela me disse: “Deixe para comermos quando formos à praia”. E eu respondi: “Não. Estou com vontade de comer tapioca hoje. Quando eu for à praia, comerei de novo”.
A vida é o hoje! É o que se vive hoje!
Aprendi isso desde que minha filha mais velha nasceu. Carol sempre foi frágil e vira e mexe estava doente. Eu sempre tive muito medo de perder minha filha e por isso vivia cada momento bem vivido. Esse foi um dos maiores e melhores aprendizados que Carol poderia ter trazido para a minha vida. Hoje minha filha já tem seus 23 anos, é autista, e continua me ensinando muito com seu jeito de ser. Ela me cura a cada abraço terapêutico que me dá.
Meu segundo filho, Gustavo sempre trouxe a serenidade e a leveza para a minha vida. Um menino cheio de sabedoria e me ensinou muito sobre desapego.
Mariana chegou sem avisar, quando eu pensei que a família já estava completa. Uma gravidez não planejada, mas muito amada. Pra vocês verem que obstetra também está passível de falhas no método contraceptivo. Assim como chegou, ela partiu, sem avisar. Foram seis meses e meio na minha barriga e um dia seu coraçãozinho, simplesmente, parou de bater. Foi a pior dor que já senti na vida. Eu acredito que não há dor maior do que a de perder um filho. E é por isso que cada vez que vejo uma mãe perder seu filho, revisito essa dor e sofro um pouco junto com essa mãe. Imagino que quanto mais você convive com um filho, maior a dor de perdê-lo.
A minha filha ainda estava na barriga, não tinha convivido comigo aqui de fora, e a dor foi imensa. A sensação que fica é de que temos um buraco na barriga. Mariana me ensinou que na vida não temos o controle de quase nada. Sempre tive medo de perder a Carol e hoje Carol está linda com seus olhos verdes e cheia de saúde. Nunca pensei que pudesse perder a Mariana e ela se foi num dia qualquer, logo depois de termos comprado todo seu enxoval.
O luto é um processo doloroso e parece uma montanha russa. Um dia estamos melhores e parece que a dor passou. No dia seguinte você acorda mal de novo. Mas aos poucos ressignificamos o lugar daquele ente querido no nosso coração. E a dor dá lugar à saudade e às boas lembranças.
Eu ouvia tanto dizer que o luto dura 3 meses. Que mentira! Cada um tem seu tempo para processar essa dor. E é preciso pedir ajuda profissional, seja do psicólogo especialista em luto, ou do psiquiatria, pois alguns lutos podem sim se complicarem.
A vida de quem está vivo precisa continuar. Provavelmente quem morreu não gostaria que as pessoas queridas morressem junto com ele. Quem morreu continuará vivo em nós, nos ensinamentos que nos deixou.
Quando minha filha morreu, eu me permiti questionar tudo, inclusive a minha fé. E descobri na dor e na escuridão da morte que Deus não é um juíz sempre pronto a nos bonificar ou castigar pelos nossos atos, como ensinam tantas religiões por aí. Coisas boas e coisas ruins acontecem a todos nós independente de sermos pessoas boas ou más. Deus é amor e nos acolhe na dor.
A morte nos mostra o quanto somos frágeis. Nos mostra que estamos só de passagem, que nada dura pra sempre. Somos finitos e assim deveríamos viver, saboreando cada momento da vida como único, pois essa é a verdade.
E como dizia Lulu Santos: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará. A vida vem em ondas, como o mar.”
Viva o hoje! Ame hoje! Divirta-se hoje! Saboreie a vida ao lado das pessoas amadas! E ligue pra quem está distante! Diga as palavras carinhosas que você sempre deixa pra depois, pois o depois pode não existir.
E seja grato por cada uma dessas pessoas que passou pela sua vida e fez com que você fosse quem você é HOJE!
Para falar comigo, me chame no @drajoicelima