A receita para ser feliz é facilmente encontrada nos dias atuais – ao menos tal promessa há em muitos comerciais, estratégias de marketing, livros, palestras e cursos. Alguns minutos nas redes sociais já mostra como hoje se faz “necessário” ser feliz. Já ouviu falar em um imperativo de felicidade? Vamos falar sobre isto um pouco.
O "imperativo de felicidade" é um conceito utilizado para descrever a pressão social que muitas pessoas sentem para serem felizes o tempo todo. Na sociedade atual, a felicidade é frequentemente vista como um valor supremo, e as pessoas são encorajadas a buscar a felicidade em todas as áreas de suas vidas, desde o trabalho até os relacionamentos pessoais. E esta busca “neurótica e compulsiva” não leva em conta o verdadeiro desejo de cada um, porque isto na verdade não faz muita diferença. O importante é estar plenamente feliz!
Essa busca pela felicidade pode ser vista como positiva, já que a felicidade pode trazer muitos benefícios para a saúde mental e física das pessoas. No entanto, e aqui está o centro da nossa reflexão: o "imperativo de felicidade" pode também ser problemático, pois as pessoas se sentirão pressionadas a serem felizes o tempo todo, e a todo custo. Veja por alguns segundos as redes sociais e veja o que lhe é apresentado lá como alguém feliz, família feliz, vida realizada – há uma espécie de massificação arbitrária da felicidade.
Contudo, a constatação é que este imperativo de felicidade favorece algo exatamente oposto: pois fazem muitas pessoas se sentirem culpadas ou inadequadas quando não estão felizes, o que pode agravar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Além disso, a busca pela felicidade a todo custo, pode levar as pessoas a adotarem comportamentos autodestrutivos, como o uso de drogas ou álcool, na tentativa de alcançar a felicidade imediatamente. E aqui não podemos esquecer do que a felicidade representa pelo consumismo desenfreado e irresponsável. É fácil encontrarmos as frases de efeito: “adquira agora e seja feliz”; “seu caminho da felicidade”; “você é capaz de ser feliz – escolha isto e verá” e “aqui você é feliz”.
Então vamos ver o que Sigmund Freud, o pai da psicanálise nos fala sobre a felicidade: “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”. Ou seja, não há a possibilidade de indicar passos para ser feliz, um faça isto e será feliz ou algo parecido, pois é algo individual e necessita naturalmente passar pelo crivo da subjetividade. Daqui podemos pensar e constatar que deve ser este um dos motivos que, quanto mais se compra, se finge e tenta se igualar em um contexto de felicidade plena, temos mais pessoas infelizes e sem esperança.
E na sua vida, a felicidade tem se tornado um imperativo, a qualquer custo, o que faz esquecer que há também lutas, dores e angústias? Já se viu tentando cumprir missões e tarefas de “gurus da felicidade” para se alcançar o patamar de felicidade que ele “mostra em suas redes”?
Enfim, se possibilite ser gente, e isto te colocará diante das realidades humanas: do limite, da dor, mas também da felicidade e do prazer – isto ao seu modo, e respeitando as suas demandas e limites.
E ainda, tem buscado uma felicidade imperiosa e que te aprisiona e te lança no abismo da impossibilidade? Aguardo sua resposta lá no divã do meu Instagram @eliassilva.psi @eliassilva.psi