A busca pela compressão dos desejos sempre foi companheira na tentativa de decifrar os mistérios do querer humano, pois compreendendo os desejos, sendo eles realizados ou não, se consegue entender a essência do ser humano, ou ao menos percebemos o que falta, ou aquilo que se imagina que falta para uma vivencia um pouco mais plena de sua humanidade.
Ouvi certa vez uma música, e nela uma frase repleta de poesia me chamou a atenção: “Desejo que você tenha quem amar”, e mesmo a música dando continuidade não consegui parar de pensar naquela frase. Não nego que ela me causou um certo incomodo, pois me parece que precisa ter algo anterior à realização deste desejo, e ainda, vale se questionar se é possível e necessário esta “posse” do objeto amado.
Aqui precisamos entender o que é o amor, e até que ponto esta pessoa esta disposta a pagar o preço deste sentimento, que carregado de ideal costuma ser cruel quando a realidade não condiz com aquilo que foi sonhado, e ainda mais, com a ideia que se tem do outro, que aparentemente poderia me “completar”, e na primeira oportunidade onde esta completude não se consuma – e nunca irá se consumar, diga-se de passagem – vem a desilusão com ele próprio, pois nem sempre tem-se a maturidade de compreender que a dificuldade foi criada pela ideia de completude e de realização plena vindo de algo fora de si. O amor pode ser encarado como uma neurose, onde eu amo e procuro amar o que falta, sendo que o real fica encoberto com a ideia de amor. Deve-se questionar: o que eu amo neste objeto? O ‘que’ amo quando digo que amo esta pessoa? Ou ainda, restaria amor quando eu encontrasse realmente o outro, e descobrir que ele não é simplesmente um “outro-eu” idealizado? Enfim, o amor que naquela frase encontrei, de fato, não sei se existe ou se precisa existir.
E ainda, antes de encontrar, se é que possível, este objeto de amor, é fundamental se questionar sobre a possibilidade de se amar, não partindo de um “eu ideal”, mas sim, amar o meu “eu-real”. O que popularmente ouvimos se reveste de uma verdade: antes de amar “alguém” procure se amar – por mais difícil e constrangedor que seja esta afirmação, ela é real, talvez neste ponto, seja a dificuldade, e por isso mesmo insistimos no ideal do “outro-eu idealizado”, pois nele é mais cômodo e menos constrangedor, e em tese, o preço cobrado é menor. Contudo, esta ideia é falsa! Tenha a coragem de se perguntar: O que restaria se não tivesse este outro objeto que digo que amo? Ou ainda, consigo atualizar o desejar de me amar, mesmo que não tenha estou “outro-ideal” fora de mim?
Penso ser mais autêntico colocar alguns adendos à esta frase. Seja quanto a possibilidade de se pagar o preço do amor real, em detrimento ao amor idealizado e romântico, ou ainda, sobre o desejo de se amar e desejar o eu real, antes de qualquer tentativa de amar o que esta fora de mim.
Não desejo que você encontre alguém para amar, antes de se perguntar e analisar, se está disposto a viver o enlace amoroso real, e a partir disso, pagar o preço de ver o seu castelo idealizado se contrapor com a realidade, e isto não é contrário a felicidade, mas sim vai ao encontro da autenticidade, sua e do objeto amado. E ainda mais, desejo que você seja capaz de se amar suficientemente, para que não precise criar um eu-ideal e projetá-lo no outro objeto de amor. Sejamos seres reais, que assumem as faltas e que estas sejam princípios de autenticidade da condição humana, e não princípios da fuga de si mesmo e de sua natureza faltante.
Continuemos
desejando! Mas que este não nos roube a nossa humanidade! Espero seu comentário
lá no meu instagram @eliassilva.psi